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Feliz Natal

domingo, 30 de março de 2008

Questões discursivas de História

Nada é mais na vida cotidiana da coletividade do que a oratória, que partilha com o teatro a característica de ser a manifestação cultural mais popular e mais praticada na Atenas clássica. A civilização da Atenas clássica é uma civilização do debate. As reações dos atenienses na Assembléia eram influenciadas por sua experiência como público do teatro e vice-versa. Trata-se de uma civilização substancialmente oral. O grego era educado para escutar. O caminho de Sócrates a Aristóteles ilustra perfeitamente o percurso da cultura grega da oralidade à civilização da escrita, que corresponde, no plano político e social, à passagem da cidade-estado ao ecumenismo helenístico.
(Adaptado de Agostino Masarachia, “La prosa greca del V e del IV secolo a.C.” In: Giovanni D.Anna (org.). Storia della letteratura greca. Roma: Tascabile Economici Newton, 1995, p. 52-54)
a) Estabeleça relações entre o modelo político vigente na Atenas clássica e a importância assumida pelo teatro e pela oratória nesse período.
b) Aponte características do período helenístico que o diferenciam da Atenas clássica.

Resolução
a) O modelo político vigente em Atenas no período clássico era a democracia, surgida no século VI a.C.. Ao contrário da democracia atual, a democracia ateniense se pautava na participação direta dos cidadãos, ou seja, apenas os homens adultos filhos de pais e mães atenienses (a minoria da população) tinham direito a voto nas decisões legislativas e judiciárias da cidade. Reunidos em praça pública (ágora), os cidadãos ouviam os demagogos que discorriam sobre assuntos que deveriam ser votados. Assim, a oratória era fundamental para o convencimento dos cidadãos no debate de questões importantes referentes à cidade. Como aponta o texto, a civilização grega se caracterizava por sua oralidade, que também se manifestava no teatro. Nos palcos, os dilemas humanos, as situações cotidianas, as sátiras aos acontecimentos e os comportamentos dos homens eram apresentados e permitiam aos atenienses exercitar sua capacidade de reflexão. Capacidade esta fundamental na tomada de decisões nas Assembléias.
b) Entre as características que poderiam ser citadas na diferenciação entre o período helenístico ao período clássico de Atenas, estão:
- A formação política de um vasto império que centralizou todas as cidades-estados, que anteriormente eram autônomas, sob controle de um soberano.
- No plano cultural, a fusão de elementos orientais na cultura e nas artes gregas, sobretudo na arquitetura, uma vez que o império macedônico se expandiu por várias regiões da Ásia (Império Persa, Ásia Central, Vale do Indo) tendo contato com culturas muito diferentes da grega.
- Ainda devido à expansão do Império Macedônico, elementos das religiões orientais também foram absorvidos pela religião helenística, diferenciando-a da religião grega do período clássico.
- A ampliação do uso da escrita na esfera política a partir da influência de modelos burocráticos do Oriente (por exemplo, Mesopotâmia e Egito), diferenciando-se da oralidade presente na democracia em Atenas no período clássico.

14) Em 1478, o Papa Sisto IV assinou uma bula, através da qual fundou uma nova Inquisição na Espanha. Redigida como resposta às petições dos Reis católicos, essa bula atribuía a difusão das crenças e dos ritos judaicos entre cristãos-novos de Castela e Aragão à tolerância dos bispos e autorizava os reis a nomear três inquisidores para cada uma das cidades ou dioceses dos reinos. Esse poder concedido aos príncipes era até então reservado ao Papa.
(Adaptado de Francisco Bethencourt, História das Inquisições. Portugal, Espanha e Itália. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 17.)

a) A partir do texto, identifique os aspectos que definem a novidade da Inquisição fundada pelo papa Sisto IV.
b) Quais as mudanças vividas pelos judeus na Espanha entre os séculos XV e XVI?

Resolução
a) Muitos dos judeus que se dispersaram pela Europa tiveram como destino a Espanha, que acabou tendo sua população muito aumentada pelos novos exilados. Muitas coletividades foram fundadas, floresceram e se tornaram grandes, em sabedoria, riqueza e prestígio, a ponto da Espanha se tornar o principal centro de judaísmo na Diáspora. Considerando uma ameaça aos interesses católicos, o papa resolve estabelecer um tribunal, chamado de Inquisição, que investigava, julgava e punia a todos aqueles que eram acusados de práticas não-católicas, consideradas .heresias.. As atividades da Inquisição diziam respeito a todos os cristãos, mas na realidade a "heresia" dos judeus era a principal preocupação da Inquisição na Espanha. Lá, segundo o texto, os reis ganharam um privilégio único desse tribunal, o direito deles próprios nomearem os inquisidores, ato até então restrito ao papa.
b) Após os cristãos reconquistarem a região de Granada, sul da Espanha, e finalizarem seu processo de formação do Estado Nacional, o rei Fernando baixou um decreto determinando a expulsão dos judeus do território espanhol e o confisco de seus bens. Muitos judeus foram assassinados e roubados ainda antes de chegar a hora da partida, pois estavam completamente desamparados e indefesos. Muitos fugiram e se dispersaram, indo para além das fronteiras da Espanha, chegando a Portugal e ao norte da África.

15) Como defensor dos índios e denunciante das atrocidades dos conquistadores, frei Bartolomé de Las Casas desenvolveu a imagem da destruição das Índias., que era produto da preocupação do frade com o futuro da sociedade que se organizava: a nova sociedade começava distorcida, prenhe de desequilíbrios e de injustiças, carente dos mais elementares direitos. Com exceção de Las Casas, no século XVI prevaleceu a visão otimista da conquista: acreditava-se que a nova sociedade era inteiramente benéfica para os aborígenes, pois se partia da premissa de que a civilização européia era superior à civilização americana. O importante era o resultado final, a propagação de valores cristãos e a organização de uma sociedade alicerçada nesses valores.
(Adaptado de Hector Hernán Bruit, Bartolomé de Las Casas e a simulação dos vencidos: ensaio sobre a conquista hispânica da América. Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo; Iluminuras, 1995, p. 17, 55.)
a) A partir do texto, identifique duas visões opostas sobre a conquista da América, presentes no século XVI.
b) Cite dois exemplos de mobilização política das populações indígenas na América Latina contemporânea.

Resolução
a) A partir do texto é possível identificar duas visões sobre a conquista da América no século XVI: aquela que era partilhada pela maior parte da população, incluindo cronistas, religiosos, funcionários reais, encomenderos e demais indivíduos envolvidos na tarefa de colonização dos novos territórios, isto é, uma visão otimista da conquista, na qual os colonizadores seriam portadores da civilização e da cultura, bem como ao catequizar e converter os indígenas estariam também contribuindo para arrebanhar novos fiéis para a Igreja Católica, enfraquecida com as Reformas Protestantes ocorridas no período. Oposta a esta visão estava a do Frei Bartolomé de Las Casas, que condenava a conquista e colonização da América, especialmente no que se refere aos abusos e violências cometidos pelos conquistadores, encomenderos e até mesmo religiosos contra os indígenas. Sua visão, como aponta o texto de Hector Bruit, era uma exceção no período, embora posteriormente tenha sido recuperada por diversos pensadores americanos e europeus, contribuindo para criação de uma imagem pejorativa dos espanhóis e do processo de conquista da América (Lenda Negra).
b) Entre os exemplos que poderiam ser citados estão:
- Neozapatismo: movimento iniciado em 1994, liderado pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) na região de Chiapas no México.
- As mobilizações de diferentes grupos indígenas na eleição de Evo Morales;
- A fundação de diferentes organizações indígenas no Brasil reivindicando as demarcações de reservas, melhores condições de vida para as populações indígenas e o combate à invasão de terras.

16) Em 1750, o governador do Rio de Janeiro, conde de Bobadela, enviou uma carta ao Rei de Portugal, D. João V, na qual comentava a assinatura do Tratado de Madri:
No tratado, a nossa demarcação passa por parte das Missões jesuítas, e surpreende-me como os jesuítas, tão poderosos na Corte de Madri, não embaraçaram a conclusão desse tratado. Porém, pode ser que armem tantas dificuldades à execução do tratado, que tenhamos barreira para muitos anos. Como me persuado, Sua Majestade determinará não seja evacuada a Colônia do Sacramento, enquanto não houverem sido evacuadas as áreas das Missões.
(Adaptado de http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe /sys/ start.hm)
a) Quais as resoluções do Tratado de Madri em relação às fronteiras coloniais?
b) Quais as conseqüências do Tratado de Madri para a atuação dos jesuítas na América Portuguesa?

Resolução
a) O Tratado de Madri foi firmado na capital espanhola entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI de Espanha, aos 13 de Janeiro de 1750, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas entre os reinos ibéricos. O objetivo do tratado era substituir o de Tordesilhas, o qual já não era mais respeitado na prática. As negociações privilegiaram a utilização de rios e montanhas para demarcação dos limites. O diploma consagrou o princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil atual.
b) Os jesuítas foram expulsos das colônias portuguesas pelo Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777, em função de radicais diferenças de propósitos. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal, ou seja, enquanto as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensava em organizar a escola para servir aos interesses da Coroa. Além disso, os jesuítas representavam uma ameaça ao estado português, pois constituíam um poder paralelo no território de seu império colonial. Sendo assim, os jesuítas que ocupavam a área anexada por Portugal pelo Tratado de Madri deveriam abandonar seus trabalhos, o que gerou uma série de conflitos, entre os quais a Guerra Guaranítica (1754-1756), quando índios guaranis missioneiros tentaram impedir a retirada dos jesuítas e a demarcação das novas fronteiras. Tal revolta foi violentamente reprimida por tropas luso-espanholas e as determinações das coroas foram cumpridas.

17) Em meados do século XVIII, o abade português Diogo Barbosa Machado colecionava vários tipos de impressos: retratos, mapas e, principalmente, pequenas obras escritas, chamadas de folhetos.
Esses folhetos divulgavam os mais diversos acontecimentos naquele mundo após a invenção da imprensa, em 1450. Eram produzidos em rápidas e pequenas tiragens para agilizar sua difusão, dinamizando assim a comunicação nas sociedades da época moderna. Essa coleção abrangia muitos folhetos relativos a Portugal e a seu império ultramarino, do século XVI ao XVIII.
(Adaptado de Rodrigo Bentes Monteiro & Jorge Miranda Leite, Os manifestos de Portugal..
Reflexões acerca de um Estado moderno.. In: Martha Abreu, Rachel Soihet, Rebeca Gontijo (orgs.). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 113-114.)
a) A partir do texto, explique a importância dos folhetos em Portugal no século XVIII.
b) Indique duas características da cultura letrada na América portuguesa entre os séculos XVI e XVIII.

Resolução
a) Os folhetos, segundo o texto, eram pequenas obras que relatavam diferentes acontecimentos do mundo desde 1450. Devido a suas baixas e rápidas tiragens eles eram amplamente difundidos e permitiam o acesso aos acontecimentos mundiais no período. Assim, sua importância reside sobretudo, na capacidade de transmitir conhecimentos de uma forma rápida, barata (pois eram impressos em tamanhos pequenos e feitos em materiais de menor qualidade) e eficaz em Portugal (atingindo boa parte da comunidade letrada da nação).
b) A cultura letrada na América Portuguesa entre os séculos XVI e XVIII estava restrita a uma pequena parcela da população: religiosos, funcionários reais e parte da elite proprietária de terras. As mulheres, com raras exceções, não tinham acesso a cultura letrada no período, uma vez que não eram alfabetizadas. Entre os livros mais lidos estavam aqueles ligados a religião (como livros de orações e hagiografias), obras de ciências naturais e de ofícios práticos (como, por exemplo, livros de matemática e sobre plantas medicinais), além de obras filosóficas. Havia, além disso, o controle sobre as obras enviadas para a colônia, uma vez que obras consideradas de conteúdo sedicioso não eram permitidas na América (embora a prática do contrabando fosse comum). Os centros de ensino eram dominados pelas ordens religiosas, sendo os jesuítas o grupo de maior expressão até sua expulsão. Nos séculos XVI e XVII, destaca-se a produção de crônicas sobre as terras descobertas e os catecismos feitos por religiosos para conversão dos gentios (obras impressas na metrópole).
Na literatura merecem destaque as produções literárias associadas ao crescimento da urbanização da América Portuguesa, como, por exemplo, as obras de Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga.

18) Sobre a transferência da Corte de D. João VI para o Brasil, o historiador Kenneth Maxwell afirma: Novas instituições foram criadas pela coroa portuguesa, e a maioria delas foi estabelecida no Rio de Janeiro, que, assim, assumiu um papel centralizador dentro de uma América portuguesa que antes era muito fragmentada no sentido administrativo. Houve resistência a isso, principalmente em Pernambuco, em 1817. Mas, no final, o poder central foi mantido. (Adaptado de Kenneth Maxwell, “Para Maxwell, país não permite leituras convencionais”. Entrevista concedida a Marcos Strecker. Folha de São Paulo, 25/11/2007, Mais, p. 5.)
a) Segundo o texto, quais as mudanças suscitadas pela transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808?
b) Quais os objetivos do movimento de Pernambuco em 1817?

Resolução
a) O texto salienta o processo de centralização política ocorrido na América Portuguesa com a transferência da corte portuguesa ao Brasil (1808). Diante de tal episódio as elites locais perderam parte de seu poder de atuação, passando a responder às autoridades portuguesas estabelecidas no Rio de Janeiro, que passa a ser a sede do Império português.
b) A transferência da Corte ao Brasil veio acompanhada de muitas transformações na colônia, como a criação de muitos cargos burocráticos para acolher esses nobres, e uma série de melhorias que foram sentidas quase que exclusivamente na capital, Rio de Janeiro, que abrigou a maior parte desses novos habitantes. Podemos citar, como exemplos, a criação imprensa, a biblioteca e o teatro real, achegada da missão artística francesas, entre outros. Essas regalias não chegaram sem custos e foram acompanhadas de um aumento generalizado de impostos, o que gerava o questionamento das populações de outras regiões. Diante desse contexto eclode a Revolução Pernambucana, um movimento emancipacionista, que desejava a separação da região e a proclamação de uma república, o que chegou a acontecer temporariamente até ser reprimido pelas tropas enviadas por D. João VI.


19) Na década de 1840, com a perspectiva do fim do tráfico negreiro, o governo brasileiro começou a interessar-se por fontes alternativas de mão-de-obra, encorajando a imigração de "trabalhadores pobres, moços e robustos" e tentando fixá-los nas fazendas de café. Se os imigrantes tivessem de comprar terras e os preços fossem mantidos em alta, eles seriam obrigados a trabalhar alguns anos antes de poderem comprar seu próprio lote. A Lei de Terras foi aprovada em 18 de setembro de 1850, duas semanas após a aprovação da lei contra o tráfico de escravos.
(Adaptado de Leslie Bethell e José Murilo de Carvalho, "O Brasil da Independência a meados do século XIX". In: Leslie Bethell (org.), História da América Latina: da Independência a 1870, vol. III. São Paulo: Edusp / Imprensa Oficial, 2001, p. 753-54, 766.)
a) Como se dava o acesso à terra antes e depois da promulgação da Lei de Terras de 1850?
b) De que maneira a Lei de Terras de 1850 buscou promover o trabalho livre?

Resolução
a) O acesso à terras antes de 1850 se dava pela doação de terras através das sesmarias desde o período colonial ou ainda pela compra e, principalmente, ocupação e posterior posse de terras devolutas. A partir da aprovação da Lei de Terras de 1850 as terras desocupadas se tornaram propriedades do Estado e somente poderiam ser adquiridas mediante compra e venda ou por autorização do rei.
b) A Lei de Terras garantia mão-de-obra livre aos grandes proprietários, pois restringia o acesso à terra mediante a compra.Assim, o imigrante ou homem livre deveria se dedicar ao trabalho assalariado, geralmente nas plantações de café, para obter o capital suficiente para compra de sua propriedade. Sem a aprovação da Lei de Terras, possivelmente, escravos libertos e imigrantes europeus ao invés de trabalharem nas grandes lavouras se dirigiriam para o interior do país em busca de terras desocupadas para tomar posse.

20) A biologia era essencial para uma ideologia burguesa teoricamente igualitária, pois deslocava a culpa das desigualdades humanas da sociedade para a natureza. As vinculações entre biologia e ideologia são evidentes no intercâmbio entre eugenia e genética. A eugenia era essencialmente um movimento político, que acreditava que as condições do homem e da sociedade só poderiam melhorar através do incentivo à reprodução de tipos humanos valorizados e da eliminação dos indesejáveis. A eugenia só passou a ser considerada científica após 1900, com o surgimento da genética, que parecia sugerir que o cruzamento seletivo dos seres humanos segundo o processo mendeliano era possível.
(Adaptado de Eric Hobsbawn. A Era dos Impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 351-353)
a) Quais as implicações políticas do desenvolvimento da genética, no início do século XX?
b) Relacione a ciência do final do século XIX e a política externa européia do período.

Resolução
a) O desenvolvimento da genética no início do século XX inspirou o surgimento de teorias que tentavam explicar a origem das desigualdades sociais com bases pretensiosamente científicas (o que chamamos de eugenia), estabelecendo um nível de “superioridade” e de “inferioridade” entre seres humanos. Podemos apontar que a Alemanha Nazista levou essas políticas eugênicas ao extremo, o que teria causado o holocausto e o ódio racial entre grupos étnicos distintos. A eugenia foi praticada também com alemães que possuíam deficiências físicas ou mentais, através do extermínio, e da esterilização.
b) Diante da industrialização de vários países europeus, as grandes potências mundiais passam a concorrer por fontes de matérias-primas, fontes de energia e mercados consumidores. Essa crise foi superada com uma nova empreitada colonialista sobre os continentes africano e asiático. Entretanto, tal investida foi justificada por teorias inspiradas no chamado “darwinismo social”, que defendiam a “superioridade” dos europeus em relação a esses povos e pregava uma “missão civilizadora" ao homem branco, que era justamente expandir sua cultura para os essas regiões supostamente atrasadas.

21) São Paulo, quem te viu e quem te vê! Tinhas então as tuas ruas sem calçamento, iluminadas pela luz baça e amortecida de uns lampiões de azeite; tuas casas, quase todas térreas, tinham nas janelas umas rótulas através das quais conversavam os estudantes com as namoradas; os carros de bois guinchavam pelas ruas carregando enormes cargas e guiados por míseros cativos. Eras então uma cidade puramente paulista, hoje és uma cidade italiana!! Estás completamente transformada, com proporções agigantadas, possuindo opulentos e lindíssimos prédios, praças vastas e arborizadas, ruas todas calçadas, cortadas por diversas linhas de bond, centenas de casas de negócios e a locomotiva soltando seus sibilos progressistas.
(Adaptado de Alfredo Moreira Pinto, A cidade de São Paulo em 1900. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 8-10.)
a) Cite duas transformações mencionadas no texto que marcam a oposição entre atraso e progresso.
b) De que formas a economia cafeeira contribuiu para as transformações observadas pelo autor?

Resolução
a) As diferenças entre o atraso e o progresso ficam evidentes na observação das ruas, que passam a ser calçadas e transitadas por bondes ao invés de carros de bois, como anteriormente; nos prédios, que ganham proporções gigantescas; e também pela maior circulação de pessoas e mercadorias, proporcionando maior dinamismo econômico à cidade.
b) São Paulo se tornou o grande centro produtor de café no Brasil, produto que caiu no gosto do europeu, ampliando cada vez mais seu mercado ao longo do século XIX. Assim, essa região se tornou o grande centro econômico do país, acumulando um excedente de capital que posteriormente pôde ser investido na sua industrialização; adquiriu infra-estrutura com ferrovias e portos; e atraiu a vinda de muitos imigrantes, o que ampliou o mercado consumidor interno, incentivando a produção e o consumo local, e também gerando a mão-de-obra necessária tanto no meio rural, como no meio urbano.

22) De 1550 a 1930, o mercado de trabalho brasileiro está desterritorializado. Só nos anos 1930-40 a reprodução ampliada da força de trabalho passa a ocorrer inteiramente no interior do território nacional.
(Adaptado de Luiz Felipe de Alencastro. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul (séculos XVI e XVII). São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 354.)
a) Quais características do mercado de trabalho brasileiro, entre 1550 e 1930, permitem considerá-lo .desterritorializado "?
b) Indique duas mudanças do mercado de trabalho brasileiro ocorridas nas décadas de 1930 e 1940.

Resolução
a) O mercado de trabalho entre 1550 e 1930 se caracteriza pela sua concentração no litoral, seguindo, portanto, a tendência da ocupação das terras no Brasil e caracterizando a desterritorialização apontada no texto. Além disso, a economia brasileira do período era marcada pela atividade agrícola, de modo que o mercado de trabalho estava espalhado entre as diferentes unidades produtoras de gêneros agrícolas, não concentrando a mão-de-obra em determinadas regiões – algo típico do trabalho urbano e industrial. Poderia ainda ser mencionado o fato de que, até 1930, a maioria dos trabalhadores brasileiros era oriunda de outras regiões do mundo (escravos africanos e imigrantes europeus), constituindo assim uma desterritorialização do mercado de trabalho que necessitava de um fluxo externo para atender a demanda por mão-de-obra.
b) Entre as mudanças que poderiam ser citadas estão:
- A ampliação da oferta de trabalho nas atividades urbanas e industriais.
- Como conseqüência da ampliação do mercado de trabalho nas cidades, o êxodo rural e a diminuição da quantidade de trabalhadores rurais.
- A interferência do Estado nas relações trabalhistas (aprovação de leis trabalhistas e criação da Justiça do Trabalho).
- O crescimento da importância política das classes trabalhadoras.
- O aumento do uso de trabalhadores brasileiros, com a aprovação da lei de nacionalização do trabalho, que exigia a presença de 2/3 de trabalhadores nacionais nas empresas.
- A legalização dos sindicatos de trabalhadores.

23) Alguns comunistas franceses encontravam conforto na idéia de que as atitudes de Stalin em relação aos opositores do regime político vigente na União Soviética eram tão justificadas pela necessidade quanto havia sido o Terror de 1793-1794, liderado por Robespierre. Talvez em outros países, onde a palavra Terror não sugerisse tão prontamente episódios de glória nacional e triunfo revolucionário, essa comparação entre Robespierre e Stalin não tenha sido feita.
(Adaptado de Eric Hobsbawn. Ecos da Marselhesa: dois séculos revêem a Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.67-68.)
a) De acordo com o texto, o que permitiu aos comunistas a comparação entre os regimes de Robespierre e de Stalin?
b) Quais os princípios políticos que definiam o regime soviético?

Resolução
a) Os dois líderes ascenderam em momentos revolucionários: Robespierre durante o processo da Revolução Francesa (1789-1799), pela qual a burguesia começa a derrubada os valores aristocráticos do “Antigo Regime”, e Stálin, na Revolução Russa, que impõe um regime socialista àquele país após o fim do .czarismo.. Ambos se utilizaram a violência para reprimir seus opositores, garantir seu poder e impor as transformações sociais que desejavam aos seus países, além disso, eles ambicionavam por reformas que se aproximavam das reivindicações das camadas mais populares, o que justificaria a comparação feita pelos comunistas franceses.
b) O regime soviético caracterizava-se por ser um Estado Totalitário no qual ocorre uma ausência de alternância real do poder político, existência de um sistema de partido político único, a presença de uma ideologia política que delimita e explica totalmente toda a realidade social (ou pelo menos pretende delimitar e explicar na sua totalidade com base em premissas e argumentos supostamente científicos), forte propaganda ideológica e controle dos meios de comunicação, existência de um aparelho burocrático altamente desenvolvido e de uma estrutura administrativa complexa a serviço do Estado e não a serviço do indivíduo e da sociedade. Além disso, por se tratar de um totalitarismo de esquerda, ou seja, aliado à ideologia socialista, promoveu a estatização e a planificação da economia.

24) Socialmente, os governos democratas de John F. Kennedy (1960-63) e Lyndon B. Johnson (1963-68) tentaram consolidar um .New Deal suavizado.. Ao mesmo tempo, os dois presidentes comprometeram o país com uma guerra sangrenta no Vietnã.
(Adaptado de Sean Purdy, “O século Americano”. In: Leandro Karnal, Sean Purdy, Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinicius de Morais (orgs.). História dos Estados Unidos. Das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007, p. 235.)
a) O que foi o New Deal na década de 1930?
b) Identifique as bandeiras políticas dos movimentos sociais nos Estados Unidos desse período.

Resolução
a) O New Deal (Novo Acordo) é o nome dado ao programa implementado nos Estados Unidos pelo presidente Franklin Roosevelt, na década de 1930, visando recuperar a economia do país abalada pela crise de 1929. Apoiado na teoria econômica de John Maynard Keynes, que pregava a intervenção do Estado na economia como forma de controle em momentos de crise, Roosevelt empregou uma série de medidas, entre elas:
- Medidas de proteção aos trabalhadores como o estabelecimento do salário mínimo, a redução das jornadas de trabalho, a criação de auxílios desemprego e saúde e o aumento de salários;
- Construção de grandes obras públicas para diminuir o desemprego e aumentar o consumo;
- Concessão de empréstimos a fazendeiros e empresários urbanos que haviam falido durante a crise;
- Controle Estatal dos preços e da produção de gêneros agrícolas e industriais.
A partir dessas medidas, em 1939 a economia norte-americana já estava plenamente recuperada, atingindo patamares semelhantes ao momento anterior à crise.
b) A partir da interpretação do enunciado, possivelmente o período ao qual a questão se refere são os anos entre 1960 e 1968. Neste período se destacam os seguintes os movimentos sociais:
- O feminismo: movimento político que luta pela igualdade entre homens e mulheres, teve um dos seus momentos de maior manifestação política a década de 1960 nos Estados Unidos;
- Movimento Hippie: parte do movimento de contracultura da década de 1960, os hippies eram contrários ao nacionalismo e a Guerra do Vietnã, contestavam os valores e as políticas tradicionais norteamericanas;
- Movimento Negro pela igualdade civil nos Estados Unidos visando abolir a discriminação e segregação racial no país. O movimento negro teve neste período sua radicalização com o surgimento dos chamados "panteras negras";
- Movimentos contrários à Guerra do Vietnã reunindo diferentes setores da sociedade norte americana;
- Movimentos estudantis: mobilização dos estudantes contra a Guerra do Vietnã e nas críticas ao governo, que eram muitas vezes associados a idéias marxistas.

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