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Feliz Natal

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas
COCIHTEC – Geografia
Profa. Anita Leocádia Carrasco Pereyra
SUMÁRIO

1 HISTÓRIA DE ROMA: introdução
EM GEITO DE APRESENTAÇÃO
A DIVISÃO DA HISTÓRIA DE ROMA EM PERÍODOS
UMA SUBDIVISÃO PARA A ÉPOCA DA REPÚBLICA

2 HISTÓRIA DE ROMA: geografia, sociedade e proto-história
O AMBIENTE GEOGRÁFICO E A SOCIEDADE
UM PARALELO COM A ANTIGA GRÉCIA
A ITÁLIA PRÉ-ROMANA
OS POVOS DA ITÁLIA NA ÉPOCA HISTÓRICA
O PROBLEMA DA ORIGEM DOS POVOS ITALIANOS
PROTO-HISTÓRIA DA ITÁLIA
OS ITÁLICOS
OS ETRUSCOS
A SOCIEDADE ETRUSCA
ANALOGIA ENTRE A CIVILIZAÇÃO ETRUSCA E A ROMANA

3 HISTÓRIA DE ROMA: fundação
A FUNDAÇÃO DE ROMA
O POVOAMENTO DAS OUTRAS COLINAS
OS PROTOLATINOS E OS PROTOSABINOS
AS QUATRO ETAPAS DE CRESCIMENTO
O “PERÍODO DOS REIS”
A LENDA DA FUNDAÇÃO DE ROMA
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LENDA
O PERÍODO DOS REIS SEGUNDO A TRADIÇÃO
A LISTA DOS SETE REIS
RÓMULO
NUMA POMPÍLIO
TULO HOSTÍLIO E ANCO MÁRCIO
TARQUÍNIO PRISCO
SÉRVIO TÚLIO
TARQUÍNIO O SOBERBO

4 HISTÓRIA DE ROMA: sociedade no período dos reis
A COMUNIDADE ROMANA NO PERÍODO DOS REIS
OS PATRÍCIOS
OS CLIENTES
OS PLEBEUS
AS ORIGENS DE PATRÍCIOS E PLEBEUS
TEORIA “TOTAL” SOBRE A ORIGEM DE PATRÍCIOS E PLEBEUS
A DEMOCRACIA MILITAR
A REFORMA DE SÉRVIO TÚLIO
O CLÃ ROMANO. PATRÍCIOS E CLIENTES. PLEBEUS
AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E A CIVILIZAÇÃO DA ROMA PRIMITIVA
O PROGRESSO ECONÓMICO E SOCIAL NO LATIUM E EM ROMA. AS PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS GREGAS
ROMA SOB O DOMÍNIO DOS REIS CONQUISTADORES ETRUSCOS
A QUEDA DO DOMÍNIO ETRUSCO E O FIM DO PODER REAL

5 HISTÓRIA DE ROMA: queda da monarquia e formação da república
A LENDA DE LUCRÉCIA
A GUERRA CONTRA OS ETRUSCOS
O TRATADO COM CARTAGO DE 508 ae
A TUMBA “FRANÇOIS”, DE VULCI
A HIPÓTESE de DE SANCTIS
OS FUNCIONÁRIOS DA ANTIGA REPÚBLICA

6 HISTÓRIA DE ROMA: luta de classes
A LUTA ENTRE PATRÍCIOS E PLEBEUS
AS CAUSAS DA LUTA
O APARECIMENTO DOS TRIBUNOS DA PLEBE
OS EDIS DA PLEBE
CARÁCTER DA MAGISTRATURA PLEBEIA
OUTROS MOVIMENTOS DE MASSAS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO V
AS LEIS DAS XII TÁBUAS
AS LEIS DE VALÉRIO E DE HORÁCIO
A LEI DE CANULEIO
OS TRIBUNOS MILITARES COM PODER CONSULAR
OS CENSORES
OS DITADORES
UMA ACALMARIA TEMPORÁRIA NA LUTA ENTRE PATRÍCIOS E PLEBEUS
A CRISE DE 390
AS LEIS DE LICÍNIO E SÉXTIO
CONCESSÕES ULTERIORES DOS PATRÍCIOS
AS LEIS DE PUBLÍLIO FILÃO
A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA POR DÍVIDAS
A REFORMA DE ÁPIO CLÁUDIO
GNEU FLÁVIO
A LEI DOS IRMÃOS OGÚLNIO
A RATIFICAÇÃO DO DIREITO DE APELO
A LEI DE HORTÊNSIO
O TERMO DA LUTA ENTRE PATRÍCIOS E PLEBEUS

7 HISTÓRIA DE ROMA: República
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA ROMANA
A NOVA ARISTOCRACIA
O SENADO
AS ASSEMBLEIAS POPULARES
OS COMITIA CURIATA
OS COMITIA TRIBUTA
CARÁCTER GERAL DAS ASSEMBLEIAS POPULARES ROMANAS
AS MAGISTRATURAS
FUNCIONÁRIOS EXTRAORDINÁRIOS E ORDINÁRIOS
FUNCIONÁRIOS CURULES E NÃO CURULES (SIMPLES)
FUNCIONÁRIOS CUM IMPERIO E SINE IMPERIO
CARACTERÍSTICAS COMUNS DOS CARGOS
OS CÔNSULES
OS PRETORES
OS CENSORES
OS TRIBUNOS DA PLEBE
OS EDIS
CARGOS COLEGIAIS INFERIORES
OS DEPENDENTES

8 HISTÓRIA DE ROMA: Política exterior de Roma antiga
A POLÍTICA EXTERIOR NO PERÍODO DOS REIS
A POLÍTICA EXTERIOR DE ROMA NO PRIMEIRO SÉCULO DA REPÚBLICA (SÉCULO V): A ALIANÇA COM OS LATINOS
A GUERRA CONTRA VEIOS (VEII)
A GUERRA CONTRA OS VOLSCOS, OS ÉQUOS E OS SABINOS
A LEGENDA DE CINCINATO
A INVASÃO DOS GALOS
CONSEQUÊNCIAS DA INVASÃO
AS REFORMAS MILITARES DOS SÉCULOS V E IV
A REPÚBLICA MILITAR E PATRÍCIA DOS INÍCIOS DO SÉCULO V
DESENVOLVIMENTO ULTERIOR DAS CLASSES E DO ESTADO EM ROMA
O SEGUNDO TRATADO COM CARTAGO
A CONQUISTA DA ITÁLIA CENTRAL. A CHAMADA “PRIMEIRA GUERRA SAMNÍTICA”

9 HISTÓRIA DE ROMA: Política exterior de Roma antiga [cont.]
A GUERRA LATINA
A SEGUNDA GUERRA SAMNÍTICA
A TERCEIRA GUERRA SAMNÍTICA
A CONQUISTA DA ITÁLIA MERIDIONAL
A GUERRA COM PIRRO
A CONQUISTA DEFINITIVA DA ITÁLIA

10 HISTÓRIA DE ROMA: A Itália sob o domínio romano
1) OS CIDADÃOS ROMANOS
2) OS MUNICÍPIOS OU COMUNIDADES COM DIREITO DE VOTO
3) COMUNIDADES SEM DIREITO DE VOTO
4) AS COLÓNIAS LATINAS
5) OS ALIADOS
6) OS DEDITICII
O CARÁCTER DO PODER POLÍTICO NA ITÁLIA
PROGRESSOS NO CAMPO ECONÓMICO E CULTURAL
A AGRICULTURA
O ARTESANATO
O COMÉRCIO
AS MOEDAS
ARTE MILITAR
A RELIGIÃO

11 HISTÓRIA DE ROMA: progressos no campo econômico e cultural
O DIREITO
ARTE POPULAR ORAL
O NASCIMENTO DA LITERATURA
O NASCIMENTO DO TEATRO POPULAR
ARQUITECTURA E ARTES FIGURATIVAS
OS COSTUMES

12 HISTORIA DE ROMA: a primeira guerra púnica
FONTES DO TERCEIRO PERÍODO DA HISTÓRIA ROMANA
O COMEÇO DA GUERRA
A ALIANÇA COM HIERON - CONQUISTA DE AGRIGENTUM
A CONSTRUÇÃO DA FROTA E A PRIMEIRA VITÓRIA NO MAR
A EXPEDIÇÃO A ÁFRICA
A GUERRA NA SICÍLIA
O FIM DA GUERRA

13 HISTORIA DE ROMA: Cartago e Roma
A REVOLTA DOS MERCENÁRIOS EM CARTAGO
CARTAGO PERDE A SARDENHA
AS REFORMAS DEMOCRÁTICAS EM ROMA
A CONQUISTA DA GÁLIA CISALPINA
AS GUERRAS ILÍRICAS
ANÍBAL NAS ESPANHAS

14 HISTORIA DE ROMA: a segunda guerra púnica
A SEGUNDA GUERRA PÚNICA
O COMEÇO DA GUERRA
A EXPEDIÇÃO DE ANÍBAL A ITÁLIA
OS PRIMEIROS RECONTROS: O TICINUS E O TREBIA
O LAGO TRASIMENUS
A DITADURA DE FÁBIO MÁXIMO
CANNAE
APÓS CANNAE
O CURSO POSTERIOR DA GUERRA EM ITÁLIA E NAS ESPANHAS
SICÍLIA
A PRIMEIRA GUERRA MACEDÓNICA

15 HISTORIA DE ROMA: Aníbal Barca desafia Roma
CÁPUA E A MARCHA DE ANÍBAL SOBRE ROMA
A SITUAÇÃO EM ITÁLIA
CIPIÃO NAS ESPANHAS
A EXPEDIÇÃO DE ASDRÚBAL A ITÁLIA. A BATALHA DO METAURO
O TERMO DA GUERRA NAS ESPANHAS. OS PREPARATIVOS DA EXPEDIÇÃO A ÁFRICA
CIPIÃO EM ÁFRICA - A BATALHA DE ZAMA
O TERMO DA GUERRA

16 HISTORIA DE ROMA: a conquista do Mediterrâneo
A POLÍTICA EXTERIOR DE ROMA DESDE OS FINAIS DA II GUERRA PÚNICA ATÉ AO INÍCIO DA GUERRA CIVIL
A SITUAÇÃO NO ORIENTE
ROMA INGERE-SE - A SEGUNDA GUERRA MACEDÓNICA
A “LIBERTAÇÃO” DA GRÉCIA
A GUERRA COM ANTÍOCO
O FIM DA CARREIRA POLÍTICA DE CIPIÃO - A SUA MORTE
A MORTE DE ANÍBAL

17 HISTORIA DE ROMA: a terceira guerra púnica
A TERCEIRA GUERRA PÚNICA
A TERCEIRA GUERRA MACEDÓNICA
A SUJEIÇÃO DA MACEDÓNIA E DA GRÉCIA
A TERCEIRA GUERRA PÚNICA E A DESTRUIÇÃO DE CARTAGO
AS GUERRAS DAS ESPANHAS

18 HISTORIA DE ROMA: progressos culturais na época das grandes conquistas
PROGRESSOS CULTURAIS EM ROMA NA ÉPOCA DAS GRANDES CONQUISTAS
A INFLUÊNCIA GREGA
POESIA E TEATRO
LÍVIO ANDRÓNICO
NÉVIO
ÉNIO
PLAUTO
TERÊNCIO
A PROSA
CATÃO
ARTES FIGURATIVAS E ARQUITECTURA
VIDA E COSTUMES

19 HISTORIA DE ROMA: revolução econômica e social
AS CAUSAS DAS GUERRAS CIVIS - A REVOLUÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL DO SÉCULO II
AS FONTES PARA A HISTÓRIA DAS GUERRAS CIVIS
A NATUREZA DA REVOLUÇÃO DO SÉCULO SEGUNDO - AS SUAS CAUSAS
O LABOR DOS ESCRAVOS
A AGRICULTURA
O OCASO DOS CAMPONESES
FORMAÇÃO DO SUBPROLETARIADO
O CAPITAL FINANCEIRO E USURÁRIO

20 HISTORIA DE ROMA: revolução econômica e social [cont]
AS CAUSAS DAS GUERRAS CIVIS [cont.]
O CAPITAL COMERCIAL
O ARTESANATO
OS CAVALEIROS E O NOVO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO
AGUDIZAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS
AS GUERRAS CIVIS E A SUA DIVISÁO EM PERÍODOS

21 HISTORIA DE ROMA: as primeiras rebeliões de escravos
AS PRIMEIRAS REBELIÕES DE ESCRAVOS
A REBELIÃO NA SICÍLIA
OS ECOS DA REBELIÃO DA SICÍLIA
A REBELIÃO DE ARISTONICO
AS PROVÍNCIAS E OS MÉTODOS DA SUA EXPLORAÇÃO POR ROMA
AS FONTES DA ESCRAVATURA - O NÚMERO DE ESCRAVOS - O SEU PREÇO
O APARECIMENTO DO LATIFÚNDIO: OS CAMPONESES SÃO DESAPOSSADOS DAS SUAS TERRAS
A REVOLUÇÃO CULTURAL EM ROMA DOS FINAIS DO SÉCULO III E COMEÇOS DO II
OS PRIMEIROS LEVANTAMENTOS DE ESCRAVOS

22 HISTORIA DE ROMA: o movimento dos Gracos
TIBÉRIO GRACO
REACÇÃO E RESSURGIMENTO DO MOVIMENTO
CAIO GRACO
A LIQUIDAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA

23 HISTORIA DE ROMA: crise no final do século II
A CRISE DE FINAIS DO SÉCULO II
A GUERRA JUGURTINA
MÁRIO, SILA E O FIM DA GUERRA JUGURTINA
OS CIMBRI E OS TEUTONES - A REFORMA MILITAR DE MÁRIO
A SEGUNDA REVOLTA DOS ESCRAVOS NA SICÍLIA
O MOVIMENTO DEMOCRÁTICO REVOLUCIONÁRIO EM ROMA
22 HISTORIA DE ROMA: o movimento dos Gracos (História)
TIBÉRIO GRACO
REACÇÃO E RESSURGIMENTO DO MOVIMENTO
CAIO GRACO
A LIQUIDAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA

24 HISTORIA DE ROMA: movimentos revolucionários
MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS E REACÇÃO NOS ANOS DE 90 E 80
A REACÇÃO DE 90: O CASO DE RUTÍLIO RUFO
MARCO LÍVIO DRUSO O JOVEM
A GUERRA SOCIAL
MITRIDATES
PÚBLIO SULPÍCIO RUFO - MÁRIO E SILA
A GUERRA DE SILA CONTRA MITRIDATES
A REVOLTA DE MÁRIO DE 87 - A DITADURA DE CINA
A LUTA POR ITÁLIA
A DITADURA DE SILA

25 HISTORIA DE ROMA: Sertório e Espartaco
OS ANOS DE 70: REBELIÃO DE SERTÓRIO E REVOLTA DE ESPÁRTACO
A TENTATIVA DE LIQUIDAR O REGIME DE SILA
A REBELIÃO DE SERTÓRIO
A REBELIÃO DE ESPÁRTACO

26 HISTORIA DE ROMA: o extertor do movimento democrático
O ESTERTOR DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO - O PRIMEIRO TRIUNVIRATO
ABOLIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE SILA
A GUERRA DE POMPEIUS CONTRA OS PIRATAS
A TERCEIRA GUERRA COM MITRIDATES - POMPEIUS NO ORIENTE
A REVOLTA DE CATILINA

27 HISTORIA DE ROMA: o primeiro triunvirato
O CONSULADO DE CÉSAR
CLÓDIO
CÉSAR NA GÁLIA
A CONFERÊNCIA DE LUCA - A MORTE DE CRASSO
AS EXPEDIÇÕES DE CÉSAR À GERMÂNIA E À BRITANNIA - A REVOLTA DOS GAULESES - A SUBMISSÃO DEFINITIVA DA GÁLIA

28 HISTORIA DE ROMA: o primeiro triunvirato [cont.]
A PALAVRA DE CÉSAR EM "GUERRA DAS GÁLIAS”
A SITUAÇÃO EM ROMA: RUPTURA ENTRE CÉSAR, O SENADO E POMPEIO

29 HISTORIA DE ROMA: a queda da república
A QUEDA DA REPÚBLICA
CÉSAR E POMPEU
A GUERRA ALEXANDRINA
A LUTA CONTRA OS POMPEIANOS
DITADURA E REFORMAS DE CÉSAR
A MORTE DE CÉSAR

30 HISTORIA DE ROMA: Antônio e Otávio
ANTÓNIO E OCTAVIANO

31 HISTORIA DE ROMA: quem é que conta a história?
AS FONTES DA HISTÓRIA ROMANA ANTIGA E A SUA VERACIDADE
FONTES PRIMÁRIAS
OUTRAS FONTES
AS FONTES DA TRADIÇÃO HISTORIOGRÁFICA
OS AUTORES
GRAU DE VERACIDADE DA HISTÓRIA ROMANA ANTIGA
A CRÍTICA DA TRADIÇÃO ROMANA A PARTIR DA IDADE MODERNA

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2 HISTÓRIA DE ROMA: geografia, sociedade e proto-história escrito em segunda 28 janeiro 2008 21:44

Etruscan terracotta horses at Tarquinia.



HISTÓRIA DE ROMA



Parte 2


Escrito por Jorge Almeida

25-Ago-2006
extraído do site: O Espaço da História



O AMBIENTE GEOGRÁFICO E A SOCIEDADE

Já no século III ae a expansão romana transbordará dos limites da península, mas a Itália irá continuar a ser, por vários séculos, a base da economia e o centro da vida política e administrativa da civilização romana.


A península apenina, central entre a balcânica e a ibérica, interna-se profundamente no Mediterrâneo. É uma estreita faixa de terra que se estende por cerca de 1.000 km, com uma largura de 150 km na sua parte central. A grande ilha da Sicília, a continuação imediata da península, está a cerca de 150 km das costas africanas. A norte, os Alpes encerram a Itália num amplo semi-círculo. No entanto os Alpes não são uma barreira infranqueável, em particular no seu sector oriental, os Alpes Julianos.
A parte a norte era chamada, na época antiga, Gália Cisalpina (a sul dos Alpes), dividindo-se em Gália Transpadana (a norte do rio Pó; Padus, também denominado Eridanus) e Gália Cispadana (a sul do Pó). Na geografia dos antigos, a Gália Cisalpina não pertencia à Itália.


Ao sul da Gália Cisalpina, no ocidente, era a Etrúria (correspondendo aproximadamente à actual Toscana). A oriente da Etrúria estavam a montanhosa Úmbria e o Piceno. Ao sul da Etrúria, a planície entremeada de zonas de colinas do Lácio. Ao sul do Lácio e ao longo do mar, a rica e civilizada Campânia. A oriente do Lácio e da Campânia, o Sâmnio, coberto de florestas. A parte meridional da península dividia-se, de leste para sudoeste, nas regiões da Apúlia, da Lucânia e do Brútio (Bruttium). A sudoeste do Brútio, a pouco mais de 3 km de distância por mar à entrada do Estreito de Messina, a ilha da Sicília.


O sistema fluvial é vasto. A Cisalpina era percorrida pelo grande rio Pó e os seus numerosos afluentes. O rio Arno sulcava a Etrúria. O rio Tibre fazia a fronteira entre a Etrúria, a Úmbria e o Lácio. No sul do Lácio corre o rio Liri. Na Campânia, o Vulturno. Na Apúlia, o Ofanto. Nos tempos antigos, os seus cursos eram bem mais caudalosos que hoje.


Os rios eram navegáveis, mas os cursos inferiores do Vulturnus, Tibris e Arnus, na costa ocidental, e o do Pó, na oriental, estavam embaraçados por aluviões arenosos. O assoreamento e as peculiaridades da zona costeira formaram ainda, no ocidente, os pântanos pontinos, no Lácio, e os pântanos litorais da Toscana, zonas infestadas pela malária.


Grande parte da Itália goza de um clima relativamente ameno. Do centro para o sul, no litoral e no mês de Janeiro, a temperatura média mensal oscila entre os 8ºC em Roma e os 11ºC na Sicília, e as amplitudes térmicas anuais não são altas. Todavia, outrora, em consequência das grandes massas de floresta que então cobriam o país, o clima apresentava-se nessas regiões mais húmido e fresco que o actual, de acentuadas características subtropicais.


Entre os romanos, essa relativa amenidade do clima manifestou-se, por exemplo, no trajo, pelo uso da túnica e da toga. Nas habitações, no atrium com abertura no tecto, para a recolha das águas pluviais, e nos jardins interiores das casas dos ricos.

UM PARALELO COM A ANTIGA GRÉCIA

Na Itália, a leste fica o Mar Adriático. O Jónico a sul. A oeste, o Tirreno e o Mar Lígure. Todos estes mares, junto às costas peninsulares, são pobres em ilhas. Ao longo da costa oriental elas praticamente não existem. Ao sul há quase só a Sicília. No ocidente, disseminadas pela costa toscana e campana, encontramos a ilha de Elba e algumas pequenas ilhas como Ischia, Capri, Ponza, etc; depois, já muito distantes da orla da península, as grandes ilhas da Sardenha e da Córsega.


As costas são escassamente recortadas, inadequadas à navegação. A costa adriática é parca em enseadas e as suas praias são de águas pouco profundas. A costa meridional e a tirrénica apresentam condições um pouco melhores. Na zona central da orla tirrena destaca-se, pelos seus bons portos naturais, a Campânia.


Assim, contrariamente à antiga Grécia balcânica, de costas muito recortadas e com um numeroso cordão de ilhas a ligá-la, a oriente, à Ásia Menor, a Itália não possuía qualquer dessas duas condições geográficas propícias ao desenvolvimento da navegação e do comércio. Acresce que a costa ocidental da península balcânica, em face à Itália, era igualmente atrasada no campo económico e no campo cultural.


Os primeiros vizinhos de civilização mais desenvolvida das tribos itálicas irão ser, precisamente, as colónias gregas da Itália meridional e da Sicília.


Na península, a única cadeia montanhosa é a dos Apeninos. Estendendo-se para sul, a cadeia divide a Itália em duas partes. Se a norte os Apeninos oferecem alguma dificuldade à sua travessia, esta torna-se mais fácil, em geral, à medida que avançamos para sul. Bem diversamente do que acontece na Grécia, em Itália, à excepção de pequenas zonas nos Apeninos setentrionais e centrais (e da região alpina), não há territórios isolados pela montanha.


Excluindo ao território italiano a Sardenha, a Ligúria, o Vale de Aosta, o Trentino-Alto Adige e o Friul-Veneza Júlia, restam-nos cerca de 267.000 km2. E somando, na Grécia, as superfícies do Peloponeso, Grécia Ocidental, Central, Ática e Tessália, o resultado é de, aproximadamente, 60.000 Km2. Como estes eram, grosso modo, os espaços ocupados respectivamente pelas antigas tribos italianas e gregas, verificamos que as primeiras dispunham de cerca de quatro vezes e meia mais território do que as segundas.


Se bem que a agricultura sedentária haja chegado primeiro à Grécia, a fértil planície do Pó deu guarida a outra das mais antigas civilizações da Europa a utilizar este tipo de práticas agrícolas, a dos terramare. Mas não era apenas o norte que oferecia condições naturais favoráveis. Também os solos da península dos Apeninos e da Sicília eram propícios ao desenvolvimento da agricultura, bem como à criação de gado.


Já os escritores da Antiguidade se surpreendiam com a extraordinária fertilidade dos solos, de origem vulcânica, do Lácio, da Campânia e daquela ilha. As terras campanas chegavam a permitir três colheitas anuais (Dionísio, I, 37). Ao invés, na Grécia, o solo é rochoso e pobre, escasso para a lavoura.


As condições climáticas, em grande parte da Itália, possibilitavam que os animais fossem alimentados nas pastagens durante todo o ano. Entre as diversas regiões propícias à criação de gado distinguia-se, então, a Itália meridional, famosa no mundo antigo pelos seus magníficos pastos. Ao Bruttium deram até o nome de Viteliu, a “região dos novilhos, dos touros” (de onde vem, provavelmente, a palavra “Itália”). Muito menos favorecidos pela natureza, os gregos antigos, exceptuando a Tessália, apenas podiam permitir-se a criação de gado miúdo (ovino, caprino e porcos).


O subsolo italiano albergava minérios metalíferos. Cobre, chumbo, estanho e zinco na Toscana, ferro na ilha de Elba, metais que tiveram uma grande importância no desenvolvimento da civilização etrusca.


Assim, a Itália não se viu forçada, como o foi a Grécia, à fundação de colónias além-mar que acolhessem o constante excesso de população a que a terra mãe não podia dar sustento, nem se viu obrigada a recorrer ao mundo exterior, como o tiveram de fazer os gregos, para se abastecer de grãos, madeira e outros materiais para a construção de navios, couros, metais e outras matérias-primas. E enquanto a Grécia, pobre em terras de cultivo, aproveitando as suas facilidades naturais para a navegação e o comércio, desenvolvia a sua economia e civilização, a Itália, num ambiente geográfico precisamente inverso, pôde continuar a ser, por muito tempo, uma economia natural, “fechada” e, por isso, atrasada.


Porém, com o desenvolvimento económico dos gregos cresceu também a escravatura, ampliaram-se os conflitos entre as classes dos ricos e as dos pobres livres, assim como os que opunham as polis sujeitadas às dominantes, resultando tudo isso num progressivo apodrecimento da coesão social e política das ligas e cidades-estado gregas.


Diversamente, a mais atrasada Itália, mantendo no essencial a propriedade livre da terra nas mãos dos clãs e das famílias, continuou a ser um país de camponeses guerreiros.


Quando Roma, após unificar a Itália, entrar na “alta política internacional” do mundo mediterrânico, será justamente o campesinato guerreiro italiano, ao formar-lhe as legiões e até a nascente marinha, que se vai revelar a arma decisiva e alcançar-lhe a conquista desse mundo.



A ITÁLIA PRÉ-ROMANA



OS POVOS DA ITÁLIA NA ÉPOCA HISTÓRICA

Apenas na península, a partir da época histórica e após a chegada dos gauleses, reconhecem-se, numa classificação muito abrangente e “aligeirada”, pelo menos doze línguas diferentes, não contando os dialectos, muito diferenciados, dos diversos povos. Este mosaico étnico já surpreendia os autores antigos.


A partir do século V ae, ao longo do vale do Pó e na região imediatamente a sul deste rio, estabelecem-se tribos célticas (Galli): ínsubres, boios, cenomanos, sénones e outras ainda. Desde os Alpes Marítimos e ao longo da costa lígure, as tribos lígures, menos desenvolvidas a nível civilizacional. Ao norte do curso inferior do Pó e para oriente, os vénetos. Na Etrúria, os etruscos, que os gregos chamavam “tirrenos”. Em toda a Itália central e em parte da meridional, numerosas tribos de itálicos. A leste, sobre a margem esquerda do Tibre, os umbros (ou úmbrios).


Mais a oriente e ao longo do mar (Adriático), os picentinos, de que uma parte (os que viviam a norte) não pertencia aos itálicos. A sul do curso inferior do Tibre, na parte setentrional do antigo Lácio, os latinos, com os équos (Aequi) e os volscos (Volsci) entre os seus vizinhos imediatos (Aequi a nordeste; Volsci a sudeste). Ao sul dos umbros e dos picentinos, na Itália central, vivia um grande grupo de itálicos. Pertenciam-lhe as pequenas tribos dos sabinos e marsos (Sabini a norte dos Latini; Marsi a leste) e o grande grupo de tribos dos samnitas.


O ramo meridional dos samnitas, formado pelas tribos dos lucanos e dos brútios (Bruttii), ocupava a parte oeste da Itália meridional. Na Apúlia (Adriático), as tribos dos dáunios (Daunii), dos iapiges, dos messápios e outras, que não pertenciam aos povos itálicos. Foram encontradas inscrições de algumas destas tribos da Apúlia. As mais das vezes são de nomes próprios e estão escritas em dialectos locais. Essas inscrições mostram que a sua raiz linguística não é a dos idiomas itálicos. Atribui-se a estes povos uma origem ilíria.


Desde a Campânia, sobre as costas da Itália meridional, as colónias gregas de Cumas, Nápoles, Poseidónia, Élea, Régio, Crotona, Tarento, entre outras.


Na Sicília, uma encarniçada luta se travava entre os gregos (que haviam colonizado a metade oriental, Siracusa, Lentini, Catânia, Taormina, Messina, etc) e os cartagineses (na parte ocidental, Drépano (actual Trapani), Lilibeu, Agrigento, etc). No interior da ilha viviam tribos de sículos e de sicânios.


Na Sardenha e na Córsega, as populações indígenas dos sardos e dos corsos, que também sofreram a colonização grega e cartaginesa.

O PROBLEMA DA ORIGEM DOS POVOS ITALIANOS

Na ciência histórica, a questão da génese étnica italiana constitui, em muito larga medida, um problema ainda por resolver. É tese aceite por quase todos os investigadores contemporâneos que os lígures e os sicânios correspondiam a restos de antigas populações, antes largamente espalhadas, respectivamente, pela Itália e Sicília. E, defendendo uma teoria que remonta aos tempos de gregos e romanos, a maioria também afirma que a grande massa da população da Itália (itálicos, etruscos e gauleses) veio de outros países, expulsando os anteriores habitantes e ocupando o território. No entanto encontramos uma larga corrente contrária, que pugna por uma origem autóctone dos etruscos, com parte dela a professar até idêntica crença no que respeita aos itálicos. Em 1948, S. I. Kovaliov assinalava entre os seus mais insignes iniciadores contemporâneos, Trombetti, Devoto e Schuchardt, informando-nos que o então ainda todo-poderoso (mas já defunto) Marr a haveria enunciado de “uma forma acabada” (...mas «deixando na obscuridade uma série de elementos substanciais», acrescentava logo de seguida Kovaliov): os etruscos e os itálicos representariam duas etapas sucessivas de desenvolvimento da antiga população italiana, e sobre essa evolução os elementos exteriores apenas teriam jogado uma influência de segundo plano.


Facto unanimemente reconhecido é que os gauleses migraram já no período histórico. Desceram dos Alpes no século V ae, invadiram a planície do Pó e expulsaram dali os etruscos. No início do século IV, avançaram mais para sul.

PROTO-HISTÓRIA DA ITÁLIA

A Itália conheceu a Idade Antiga da Pedra, como o mostram, entre outros vestígios, as cavernas paleolíticas das montanhas da Ligúria. O Neolítico está bem representado em toda a península. Também na Sicília e na Sardenha foram descobertos vestígios do Paleolítico e do Neolítico.


Partindo da caça, pesca e da recolha (nos terrenos das estações neolíticas encontraram-se abundantes depósitos de ossos de animais selvagens, e de conchas de moluscos, nas regiões litorais), bem cedo as populações da Itália introduzem na sua economia a cevada, espécies de trigo e legumes (lentilhas, ervilhas, favas), que cultivavam ainda à maneira nómada. Algo mais tarde, juntam a estes cultivos o do milho-miúdo. As árvores de fruto e a vinha selvagem conheciam-nas então apenas como colectores.


[As árvores de fruto começarão a ser incorporadas na agricultura pela Idade do Bronze, posteriormente, sê-lo-á a vinha. E só ainda mais tarde os gregos e fenícios virão a introduzir o plantio da oliveira, dos citrinos e das tamareiras, entre outras culturas (por exemplo, a da romãzeira; recorde-se que à romã também se chama “maçã púnica”).


A partir do III milénio começa a surgir, a par do uso da pedra, o uso do cobre no fabrico de diversos objectos (Período Calcolítico). Verifica-se a passagem à pastorícia, (ossos de bovinos, cabras, carneiros e porcos foram encontrados em grande número nas escavações).


A Idade do Bronze, no II milénio, é a época dos “terramare” no norte da Itália. Estas populações ainda fabricam utensílios de pedra, madeira e osso, mas o trabalho dos metais (bronze) ganhara preponderância. À caça e pesca, como ocupações importantes, juntam-se, além do artesanato, a pastorícia e a nascente agricultura sedentária.


Quanto aos hábitos funerários, enterravam as urnas com as cinzas dos seus mortos em filas compactas, em necrópoles, no exterior dos povoados.


Na Itália central e meridional, no decorrer do II milénio, a Idade do Bronze é marcada pela “cultura dos Apeninos”, com as populações a praticarem uma pastorícia de transumância, a agricultura e o artesanato. Os achados arqueológicos atestam-lhes relações comerciais com a “civilização creto-micénica”. Diversamente dos terramare, que usavam a cremação, estes povos tinham por costume enterrarem os seus mortos.


[o historiador N. Diakov afirmava que no Lácio, anteriormente ao estabelecimento dos latinos, a “cultura dos Apeninos” se caracterizaria por trabalhos de drenagem, muralhas ciclópicas e cerâmica decorada «semelhante à dos micénicos», insinuando assim uma provável presença grega nessa região. No entanto aqueles trabalhos (mais de recolha de águas pluviais que de drenagem) e muralhas datarão de épocas bem mais posteriores (após o ano 1000 antes da era), com os latinos (e outros povos da época histórica) já fixados no país, não se podendo pois considerar como traços característicos do Latium nos tempos da “cultura dos Apeninos”. Quanto à olaria, N. Diakov infelizmente não nos explicita em que consistiria a suposta semelhança e a que período da cerâmica micénica se está a referir.


Cerca do ano 1000 o uso do ferro faz a sua aparição em Itália. É o que se denomina a Primeira Idade do Ferro, apesar de ainda predominar a metalurgia do bronze. Em 1853, próximo de Bolonha, na localidade de Villanova (daí o nome de “civilização vilanoviana” para esta cultura), são encontrados os primeiros objectos de ferro e um vasto monumento funerário de sepulturas individuais contendo urnas de um tipo particular (com incineração do cadáver), a que se chamou “bicónicas”. Esta cultura depressa se espalhará pela Etrúria, Lácio, Campânia, “transportada” por itálicos que avançavam cada vez mais para sul. Por esta mesma época, os vénetos e os povos ilírios vêm estabelecer-se na península. Surgem aglomerados de tipo urbano. A passagem à agricultura e à pastorícia está consumada.


As casas familiares são de forma circular, feitas de toros, com as paredes revestidas de argila e lama. São habitações próprias de uma sociedade de famílias que detêm as suas explorações particulares. Tesouros fúnebres, se bem que ainda modestos, revelam um início de diferenciação na riqueza possuída por algumas destas famílias. Peças de cerâmica grega, vidrilhos e marfins fenícios aí encontrados atestam relações de troca com esses povos.


A partir deste quadro social dos finais do século IX – inícios do VIII, vai emergir uma nova civilização, a etrusca. Vejamos agora quais as hipotéticas relações entre a génese dos povos italianos anteriormente enumerados e estas culturas.

OS ITÁLICOS

A teoria mais sufragada defende que chegaram a Itália a partir de nordeste, em duas vagas sucessivas.


Os primeiros teriam aparecido no Vale do Pó no início do II milénio. Vindos de além Alpes, da planície danubiana, fixam-se ao longo dos rios e dos lagos da Itália do nordeste, ali vivendo em aldeias de palafitas.


Passam depois a terra firme, nas regiões a sul do Pó. Os restos das suas aldeias foram chamados “terramare” (dos termos latinos terra e mare; “terramare” ganhou ainda o sentido de “terra gorda”, formada com os restos orgânicos desses povoados).


A ulterior técnica romana de construção dos acampamentos apresenta características comuns com a “planta” destas aldeias: o fosso, a cerca defensiva, a disposição perpendicular das ruas, segundo os pontos cardeais. Por isso e porque cremavam os seus mortos, são considerados, por alguns, os antepassados longínquos dos latinos (e dos faliscos e sículos, mas, quanto a estes dois últimos povos, apenas pelas afinidades dos respectivos idiomas com o latim).


Há outras teses, que podemos caracterizar pelo seu crescendo na defesa da autoctonia. Por exemplo, como tese “moderada”, temos a parte final do texto francês da Wikipedia, que defende ter havido apenas uma interpenetração indo-europeia com as populações “autóctones” do vale do Pó, e que tal fenómeno se teria dado já nos finais da Idade do Bronze. Como hipótese “esdrúxula”, veja-se o texto dos wikipedistas italianos: os habitantes dos terramare seriam populações “originárias” que, além disso, “explicariam tudo” (junto com o comércio da “via do âmbar,” diga-se de passagem) quanto à formação da chamada civilização vilanoviana e, posteriormente, da etrusca.


Uma segunda vaga de povos itálicos, etnicamente próximos dos primeiros, dada a sua afinidade linguística, terá aparecido na península nos finais do II milénio (por volta de 1200 – 1100).


São considerados pela maioria dos autores contemporâneos os antepassados dos povos que se estabeleceram em regiões montanhosas dos Apeninos (umbros, picentinos do sul, sabinos, samnitas e lucanos), e que está agora na moda denominar por sabélios (os sabelos eram uma pequena tribo vizinha dos sabinos; o termo latino Sabelli servia aos romanos para designar quer os sabinos, quer os sabelos) ou umbro-oscos, quando o mais correcto seria chamar-lhes umbro-samnitas. Provavelmente, o seu modo de vida basear-se-ia então no pastoreio de transumância.


É possível que parte dos antigos habitantes das regiões que ocuparam se haja fundido com esta segunda vaga. Outros terão sido repelidos para regiões menos hospitaleiras, sendo certo que os lígures apenas se mantiveram na zona noroeste dos Apeninos, os sículos apenas na Sicília.


Defende S. I. Kovaliov que, diversamente da primeira vaga, os recém-vindos itálicos inumariam os seus mortos, não os cremando (o que está de acordo com os usos funerários desses povos na época histórica). Não poderiam, por isso, ter dado origem à “cultura de Vilanova”, que praticava a incineração. Esta seria, provavelmente, um produto dos remanescentes da primeira vaga de itálicos, a que havia fundado a civilização dos terramare.


Ao invés, uma outra teoria afirma que os vilanovianos resultariam sobretudo da segunda vaga de itálicos, povos que praticariam não a inumação, como quer Kovaliov, mas a cremação, porém, diversamente dos terramare (tumbas colectivas), usando sepulturas individuais.


Em todo este puzzle de teorias, algo há que é manifestamente indefensável: que a segunda vaga tenha criado a “cultura de Vilanova” e, simultaneamente, dado origem aos povos umbro-oscos (melhor dizendo, umbro-samnitas), pois que são diversos os seus âmbitos territoriais e modos de vida. Já na época histórica, excluindo os úmbrios e sabinos (em contacto com a civilização etrusca), e uma ou outra pequena nação da Itália central, todos os restantes povos incluídos na designação de umbro-samnitas, se bem que também agricultores, viviam preponderantemente duma pastorícia de transumância, ou seja, necessitavam de pastos de vale (ou planície) e montanha (ou planalto), razão porque não se teriam fixado antanho (aquando da sua chegada a Itália) na planície do Pó nem nas regiões ocidentais (parte delas infestadas pela malária). Já os povos que se instalaram na Etrúria, Lácio e Campânia desenvolveram sobretudo a sua agricultura (inclusive com a execução de grandes trabalhos de drenagem).


Por fim, e de novo a contracorrente da maioria, S. I. Kovaliov considerava que a segunda vaga não haveria dado origem a todos os povos umbro-oscos (ou umbro-samnitas), mas apenas ao «grupo de povos sabelo-samnita». Ou seja, os úmbrios eram por ele excluídos da última migração, seriam um povo itálico mais antigo. E os focos da civilização vilanoviana teriam surgido, precisamente, na região que então ocupavam (da planície do Pó até à Toscana). Indo contudo mais longe na tese da autoctonia, Kovaliov colocava o nascimento da civilização etrusca sobre a base e no quadro da cultura vilanoviana, deixando em aberto, entre outras, a hipótese dos etruscos serem uma parte daquela antiga população de Itália, que, ao desenvolver a “cultura de Vilanova”, teria conseguido atingir um grau civilizacional superior.

OS ETRUSCOS

Já gregos e romanos se interrogavam sobre a origem deste povo.


Heródoto (livro I, 94) dizia que um bando de lídios, acossado pela fome, navegou para oeste, chefiado por Tyrrhenus, o filho do rei. Chegando à Itália ocidental, ao país dos úmbrios, o bando ali encontrou abrigo e pôde fundar novas povoações. Esta crença de Heródoto foi praticamente um dogma na literatura antiga. Com base nesta opinião, os escritores romanos chamavam ao Tibre, Lydius amnis (“o rio dos lídios”). Os próprios etruscos se reconheceriam descendentes dos lídios. E, informa Tácito (Anais, IV, 55), uma delegação da cidade de Sardes, vinda a Roma no tempo de Tibério, também reclamou a proveniência lídia dos etruscos.


Por sua vez, Helânico de Lesbos, um autor que terá escrito, provavelmente, um pouco antes de Heródoto, afirmava que os pelasgos (habitantes da Grécia), expulsos pelos helenos, haviam atravessado o Adriático e chegado à desembocadura do rio Pó. Dali se teriam dirigido para o interior do país, estabelecendo-se na região chamada Tirrénia.


Mas já Dionísio de Halicarnasso (I, 29) demonstra que os pelasgos e os etruscos eram povos distintos. Defendeu também que os etruscos nada tinham em comum com os lídios. Que as línguas, os deuses, as leis e costumes destes dois povos eram absolutamente diferentes. A isto acrescentava: «estarão mais próximos da verdade os que dizem que os Tusci não provêm de nenhum lugar, sendo uma população indígena, pois que se trata de um povo antiquíssimo [e duma petitio principii a dobrar de Dionísio], em nada parecido com qualquer outro das proximidades, nem pelo idioma nem pelos usos e costumes». Na tradição clássica, Dionísio foi o único a defender esta “tese”.


Assinalemos, por fim, que Tito Lívio (V, 33) afirmou uma origem etrusca para os Raeti e outros povos alpinos, e que já muito posteriormente, no século XVIII, Niebuhr veio a defender a proveniência alpina dos etruscos.


Nas obras da maioria dos autores antigos pode-se resumir assim a história dos etruscos:


À sua chegada a Itália submeteram os úmbrios, um antigo e poderoso povo, e estenderam o seu domínio ao longo do rio Pó, fundando cidades e povoados fortificados. Depois dirigiram-se para sul, ao Lácio e à Campânia.


Nos finais do século VII surge em Roma a dinastia etrusca dos Tarquínios e, no início do século VI, os etruscos fundam, na Campânia, a cidade de Cápua.


Na segunda metade do século VI (por volta de 540), numa batalha naval junto à costa da Córsega (próximo de Aléria), aliados aos cartagineses, os etruscos derrotam os gregos.


Em 524, não longe de Cumas (Cumae, na Campânia), os etruscos são derrotados pelas tropas comandadas pelo grego Aristodemo.


A tradição fixa a expulsão dos Tarquínios de Roma no ano de 510, porém o rei etrusco Porsena acorre e vence os romanos, impondo-lhes duras condições. Contudo, poucos anos depois, o exército etrusco será de novo derrotado, na batalha de Arícia, pelos latinos e os gregos de Aristodemo.


Nos inícios do século V (em 474), numa grande batalha naval frente a Cumas, o tirano de Siracusa, Hierão (ou Gerão), inflige uma pesada derrota aos etruscos.


Na segunda metade do século V, no ano de 424, segundo Tito Lívio (IV, 37), os samnitas expulsam definitivamente os etruscos de Cápua.


No início do século III os Tusci são definitivamente vencidos pelos romanos, perdendo de facto a independência.


Eis o que diz a tradição. Vejamos agora o que dizem as outras fontes.


A maioria das inscrições e doutros vestígios arqueológicos encontra-se na Etrúria, mas muitas foram também descobertas a sul, no Lácio e na Campânia. No leste, em várias zonas da actual Úmbria, em torno de Ravena e mais para norte, sobre a costa adriática; na direcção noroeste, aparecem em grande quantidade nos arredores de Bolonha e, ainda mais a setentrião, em Placência (Placentia). Encontraram-se inscrições até na região do Lago de Como e no Brennero, já em plenos Alpes, mas estas últimas, se bem que escritas no alfabeto etrusco, contêm muitas formas indo-europeias.


Deste modo, a grande difusão territorial das inscrições confirma o que diz a tradição quanto à expansão etrusca nos séculos VII e VI.


A língua etrusca não se aparenta ao grupo indo-europeu. Não é uma língua flexiva, estando mais próxima do tipo das aglutinantes.


S. I. Kovaliov considerava muito interessante o vínculo existente entre a língua etrusca e alguns idiomas itálicos, em particular o sabino e o latino. Certas palavras latinas e sabinas apresentam características afins ao etrusco. Segundo aquele historiador, seria esse o caso, por exemplo, dos nomes terminados em «a»: Sulla, Cinna, Catilina, Perperna (o equivalente romano de Porsena). Constatava ainda afinidades entre nomes próprios etruscos e algumas denominações da mais antiga Roma. Assim, os nomes das três antigas tribos, ramnenses, ticienses, lúceras (Ramnes, Tities, Luceres) apresentarão semelhanças com nomes etruscos (rumulna, titie, luchre), e o mesmo acontece relativamente aos nomes Roma, Rómulo, etc.


Porém, também no Oriente se encontram analogias com a língua etrusca. Em 1855 foi descoberto na ilha de Lemnos um epitáfio numa língua muito semelhante ao etrusco. E existem pontos de contacto entre o etrusco e idiomas da Ásia Menor.


As primeiras figurações etruscas só aparecem em tumbas dos finais do século VIII ou inícios do VII. No entanto é possível seguir passo a passo, desde uma época mais remota na Primeira Idade do Ferro, a evolução nas sepulturas, dos chamados “pozzettos” até às luxuosas tumbas de múltiplas câmaras. Também não se verificam bruscas descontinuidades na vasilha, nos utensílios, armas e adornos depositados nos sepulcros, o que de novo advoga a favor da tese duma evolução autónoma, não perturbada por agressões estrangeiras.


Todavia a “pista oriental” também aqui se revela. É disso exemplo uma dentre as muitas tumbas descobertas em Vetulónia, na Toscana, onde se encontrou a chamada estela de Avele Feluske, que data do século VII ou VI, contendo um dos primeiros epitáfios (se não mesmo o mais antigo) em língua etrusca. Nela se representa um guerreiro com elmo metálico de longa crina e um machado duplo na mão. Ora a representação da dupla acha (assim como aquele tipo de elmo) é comum na Ásia Menor e nas zonas de civilização creto-micénica.


Há muitos argumentos a favor de uma teoria “moderada” da origem oriental: os testemunhos da tradição; as inscrições de Lemnos; as raízes asiáticas da língua etrusca; as semelhanças das tumbas etruscas com sepulturas encontradas em cavernas da Ásia Menor; os ritos de adivinhação, que recordam os costumes da Babilónia; o estilo das pinturas, semelhante ao da civilização creto-micénica e grega arcaica.


Já muito dúbias, como argumentos em prol da tese oriental, serão as referências egípcias às tribos dos turscos e sciardinos (tursci e sciardani, que se pretende ler por “etruscos e sardos”), entre os povos marítimos que atacaram o Egipto no período entre os séculos XIII e XII. Também sofrem larga contestação os poucos estudos de ADN mitocondrial efectuados na tentativa de determinar donde vieram os etruscos. Não obstante, e curiosamente, todos eles apontam para uma mesma região de proveniência: a Ásia Menor.


Diz-nos Kovaliov, certamente pensando assinalar-lhe a precedência, ter o inglês Conway defendido que, nos finais do II milénio ou nos inícios do I, na época das grandes migrações no mar Egeu, bandos de piratas lídios começaram a estabelecer-se sobre a costa ocidental da Itália, a norte do rio Tibre, submetendo o povo dos úmbrios e expandindo-se depois para norte, nordeste e sul. Todavia já os italianos reclamam, para o seu compatriota Edoardo Brizio, a primazia na fundamentação científica da tese da origem oriental dos etruscos.


A versão do também italiano Ducati é muito semelhante, seriam originários da costa da Ásia Menor e de ilhas do mar Egeu (Lemnos). Mas teriam aparecido em Itália só nos finais do século VIII, quando gregos e fenícios já haviam ocupado as costas da Itália meridional e da Sicília, apenas lhes restando para desembarque a Toscana, fértil, rica em metais e densamente povoada pelos úmbrios. Ali terão afluído em número cada vez maior até que, nos começos do século VII, surgiu a sua metrópole itálica, Tarquínios.


Os colonizadores não constituíam um povo. Terão sido grupos de guerreiros que, gradualmente, se mesclaram com a população local, à qual trouxeram novas armas, o alfabeto grego, a sua religião e idioma. A sua língua seria a “mediterrânica”, “egeia”, diversa da indo-europeia.


[A tese duma linguagem comum no Mediterrâneo, anterior à chegada dos povos indo-europeus, é uma velha quimera da linguística especulativa. Hoje essa ficção tornou-se ainda mais esdrúxula, procurando abranger um muito maior espaço territorial.


Ainda pobre em materiais recolhidos e de classificação incerta, a linguística ama as generalizações especulativas e gosta de contagiar com elas os dados da arqueologia, do folclore, da etnologia, etc. Um outro bom exemplo de fantasmagorias generalistas da linguística, já num âmbito muito mais vasto que o mediterrânico e o europeu, configuram-no as chamadas teses nostráticas.


Esses proto-etruscos terão desenvolvido a civilização vilanoviana segundo a cultura oriental por eles trazida. Nos finais do século VII, a Etrúria como entidade própria, “nacional”, compreendendo a região entre o Arno, o Tibre e o mar, haver-se-ia já formado.

A SOCIEDADE ETRUSCA

Segundo Dionísio e de acordo com a própria epigrafia etrusca, chamavam a si mesmos rasenna.


A agricultura e a criação de gado formaram a base da sociedade etrusca. Há representações do arado tirado a bois, conheciam o cavalo e sabemos, por exemplo, que a lã etrusca gozou de grande nomeada. Conservaram-se vestígios de grandes obras de drenagem.


Porém, graças sobretudo à exploração das minas ricas em cobre, ferro e outros metais, a divisão e especialização do trabalho artesanal atingiu um grau assinalável. Testemunham-no os vasos, lâmpadas, candelabros, espelhos, figuras em bronze, joalharia e outros artigos e obras de arte etrusca que encontramos espalhados pelos museus de toda a Europa.


Naquela produção artesanal e também na pintura, entre outras influências culturais, há que destacar a grega. No entanto as artes etruscas apresentam muitos traços próprios e originais. Essa singularidade vai-se revelando, sempre em crescendo, da pintura aos bronzes e à joalharia, atingindo o seu clímax nos monumentos fúnebres e na arquitectura urbana.


Sempre foram conhecidos como um povo de comerciantes. Segundo as fontes literárias, o seu comércio manteve por muito tempo um carácter pirata. De acordo com Plínio o Velho, o esporão na proa das naves terá sido até de sua invenção.


Nas tumbas pré-etruscas e etruscas encontrou-se grande quantidade de objectos de importação, sendo fenícios os mais antigos. Aos fenícios sucederam-se depois nas relações comerciais os seus “herdeiros” do norte de África, os cartagineses.


No século VII os etruscos desenvolveram o seu comércio com os gregos de Cumas e de Siracusa. No século VI estabelece-se um tráfico comercial directo com Atenas, que alcançou o seu auge no século V. O volume das importações gregas, durante todo este largo período, pode ser medido pelo facto de, só na cidade de Vulci, se haverem encontrado milhares e milhares de vasos gregos, e pela presença, em geral, nas tumbas etruscas, de cerâmica grega de estilo protocoríntio, coríntio e ático.


As exportações etruscas consistiam de artesanato, cobre, ferro, cereais e outros produtos agrícolas. Provavelmente transportados em vasta escala por barcos gregos e cartagineses, e em muito menor volume pelos próprios navios tirrenos, os artigos do artesanato etrusco eram comerciados por todo o Mediterrâneo.


Pedaços de cobre fundido de peso e forma irregulares foram o primeiro meio de troca dos etruscos, mas já antes dos finais do século VI começaram a utilizar, como dinheiro, pesos padrão daquele metal. Depois surgem as moedas gregas importadas. As primeiras moedas de ouro etruscas aparecem cerca de 500, e a cunhagem de moedas de prata para a circulação inicia-se por volta de 450.


Os sinais de diferenciação social surgem cedo nos vestígios arqueológicos. Centenas de anos mais tarde, a tradição literária sublinhará a riqueza e o modo de vida luxuoso da classe dirigente etrusca. Nos sarcófagos e nas pinturas sepulcrais os nobres etruscos figuram com muitos adornos, bem nutridos. Em algumas delas são representados na companhia de servos em atitude de cuidar dos seus senhores.
A abundância das pinturas, a habilidade artesanal revelada na construção das tumbas e os objectos de luxo nelas encontrados também confirmam a ênfase das fontes escritas gregas e romanas quanto aos gostos refinados da classe dirigente etrusca.


Regra geral, as suas cidades erguiam-se em posições alcantiladas, sendo essas defesas naturais ainda reforçadas por muralhas. As inscrições fazem menção, no interior da própria sociedade etrusca, a classes de pessoas sujeitas à exploração económica: os “lautni”, que talvez fossem indivíduos livres, mas na dependência sócio-económica das famílias etruscas, e os “etera”, provavelmente os escravos.


Quanto aos povos dominados pela aristocracia etrusca na Etrúria, Úmbria, bacia do rio Pó, Lácio e Campânia, eles encontravam-se em diversos graus de dependência político-militar e económica: desde a obrigação de fornecer contingentes militares até à prestação de tributo e ao cumprimento de corveias na construção das muralhas das cidades e fortalezas, dos sistemas de drenagem, etc.

O sistema de imposição de corveias colectivas às comunidades era algo de estranho à Itália de então. Ao invés, no Mediterrâneo oriental, vigorava em diversas regiões, constituindo um elemento característico do que depois se denominou o modo de produção asiático.


As fortes sobrevivências do matriarcado entre a classe dirigente revelam um outro traço peculiar da sociedade etrusca. Em muitos monumentos fúnebres, junto com o falecido, é recordada a sua esposa. Por vezes até, é só a mulher que neles figura. E nas pinturas de banquetes ela é sempre representada ao lado do marido.


Segundo as fontes literárias clássicas, as mulheres etruscas tinham fama de se darem à libertinagem, mas gregos e romanos já viviam então numa sociedade patriarcal, e a sua mentalidade era a desta sociedade.

[Também estes dois elementos – corveias colectivas e relativa liberdade da mulher –, dissonantes numa sociedade assente na família patriarcal, apontam para uma origem oriental dos etruscos.]


O termo lucumãos talvez designasse a classe aristocrática ou, porventura, terá sido o título dos mais altos dirigentes, simultaneamente chefes militares e sacerdotes (a que os romanos chamavam “reis”).


[Dantes pensava-se que a palavra lars seria a designação dos chefes etruscos; hoje, porém, tende-se a considerá-la somente como um nome próprio.]


Cada cidade tinha o seu chefe. Nos séculos V e IV, na maioria das cidades, eles seriam eleitos por um período determinado; no entanto também se conhecem casos, nessa mesma época, de dirigentes investidos vitaliciamente (à semelhança de certos tiranos gregos).


Além do chefe supremo da cidade, havia diversas funções públicas de grau inferior, asseguradas por outros magistrados.


A crer em Lívio e noutras fontes clássicas, existiu, logo por volta do século VII ou VI, uma liga de 12 cidades autónomas. É também possível que se hajam formado outras alianças de cidades etruscas, na região do Pó e na Campânia.


A cada ano, na festa da Primavera, no templo de Voltumna, a maior divindade etrusca (o templo muito provavelmente localizar-se-ia no território de Volsinii, talvez nas proximidades da actual Bolsena, na Etrúria meridional), os representantes das cidades aliadas reuniam-se para discutir os seus problemas e eleger o chefe da aliança, que era também o seu grande sacerdote. Assistiam-no 12 lictores, de acordo com o número das urbes que formavam a liga.


Contudo é duvidoso que tal aliança constituísse uma efectiva força político-militar, porquanto as fontes romanas afirmam que, nos séculos V e IV, várias cidades etruscas se recusaram o auxílio mútuo, e que era frequente ver-se cada uma delas a combater por sua própria conta e risco.


Como união religiosa, a liga etrusca sobreviveu até finais do Império.

ANALOGIA ENTRE A CIVILIZAÇÃO ETRUSCA E A ROMANA

Existem muitos elementos comuns, na vida política, nos costumes e na religião, entre os etruscos e os seus vizinhos sabinos e latinos.


O uso romano de rodear os mais altos funcionários de lictores, munidos de feixe de varas e de machado (fasces), as cadeiras de marfim dos altos magistrados (sella curulis), a toga ornada com uma faixa púrpura (toga praetexta), os jogos de gladiadores, o costume do triunfo, são de origem etrusca. É ainda provável que o costume etrusco do sacrifício de vidas humanas, tantas vezes mencionado nos textos dos escritores antigos, tenha algo a ver com a tradição romana de matar os prisioneiros após a parada triunfal.


Os etruscos, tal como os romanos, acreditavam na existência de numerosos espíritos, bons e maus. Em ambas as sociedades, as esconjurações e augúrios eram artes secretas e formavam parte do monopólio sacerdotal. São de origem etrusca a adivinhação pela observação das entranhas dos animais acabados de abater, dos fenómenos atmosféricos, do voo dos pássaros. O mesmo sucede com as cerimónias de fundação das cidades.


Alguns deuses etruscos como, por exemplo, Charun (Caronte), Aita (Ares), Hercle (Hércules), foram provavelmente tomados dos gregos. Nomes e traços característicos de outras divindades etruscas são semelhantes aos de divindades gregas e romanas. Assim, à trindade etrusca de Tinia, Uni e Menrva terá correspondido a trindade capitolina de Júpiter, Juno e Minerva. O etrusco Maris recorda o deus romano Marte. Nethuns, o deus do mar Neptuno. A deusa Vesuna, em certa medida, a romana Vesta.

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3 HISTÓRIA DE ROMA: fundação escrito em segunda 28 janeiro 2008 22:24

Numa Pompilius establishing the worship of the Vestal Virgins.
Seventeenth-century fresco by Cavalier d’Arpino,
Capitoline Museums, Rome, www.the-romans.co.uk.



HISTÓRIA DE ROMA



Parte 3


Escrito por Jorge Almeida

25-Ago-2006
extraído do site: O Espaço da História



A FUNDAÇÃO DE ROMA

A pequena tribo dos latinos ocupava o chamado Latium vetus (Lácio antigo), a parte noroeste do Lácio clássico. O Latium vetus estendia-se por uma zona de planície ondulada com cerca de 2.000 km2. No seu sector sul encontram-se as colinas albanas. Os cursos de água mais importantes eram o Tibre, navegável, que unia o Lácio às regiões interiores, e o Aniene, um seu afluente da margem esquerda. A região tinha por limites: a ocidente, o Mar Tirreno, onde se processava um intenso comércio entre gregos, cartagineses e etruscos; a norte, o Tibre, fazendo a fronteira com os territórios das ricas cidades etruscas; a nordeste, os montes sabinos; a leste, à medida que se avança para o sul, as regiões montanhosas dos équos, dos hérnicos (Hernici) e dos volscos; a sul, mas já para lá do território dos volscos, a fértil e mais civilizada Campânia.


Não antes dos finais do II milénio, os protolatinos estabelecem-se inicialmente nas colinas albanas, onde o clima era mais seco e sadio. Estas colinas foram o centro da sua expansão (no século VII ae, serão a sede da união das primitivas polis latinas, a federação albana).


No curso inferior do Tibre há um outro grupo de colinas, cujo povoamento é posterior ao da região albana e onde depois surgiu Roma. A sua posição era muito favorável. Situavam-se sobre a margem esquerda do rio, numa zona pantanosa. Algumas das colinas são muito escarpadas. Distariam, então, de 22 a 25 km do mar. Nas suas cercanias passava a chamada Salaria via, vinda da desembocadura do Tibre, onde se fazia a extracção do sal, seguindo depois para o interior.


O Palatino foi a primeira colina a povoar-se. A tradição antiga é unânime em afirmá-lo e considerações de ordem topográfica levam-nos a crê-la. As suas ladeiras, escarpadas de três lados, só apresentam um acesso, de fácil defesa, pela direcção nordeste, sendo ainda rodeadas por zonas pantanosas. Ocupando a colina uma área de cerca de 10 hectares, o seu cimo permitia o assentamento de um pequeno povoado e dominava sobre o vau do Tibre, muito próximo, e sobre a Via Salária.


Recentemente, novos vestígios foram encontrados duma antiga ocupação humana, que poderão datar de finais do II – inícios do I milénio.

O POVOAMENTO DAS OUTRAS COLINAS

Não longe do Palatino, no local onde depois se ergueu o forum, foram descobertas sepulturas semelhantes, mas mais tardias, às encontradas nas colinas albanas. Nas chamadas colinas exteriores, o Esquilino, o Quirinal e o Célio, essas sepulturas quase não existem.


Além disso, sobre o Esquilino, que está nas cercanias imediatas do Palatino, aparecem, a partir dos finais do século IX, sepulturas de inumação. Estas sepulturas estendem-se depois para o Quirinal e para o local do “futuro” forum, tornando-se ali frequentes nos séculos VIII a VI. No forum, foram encontradas junto às velhas sepulturas com incineração do cadáver.

OS PROTOLATINOS E OS PROTOSABINOS

Nos séculos X e IX, existiu sobre o Palatino uma aldeia de “homens de Vilanova” (provenientes, segundo toda a probabilidade, dos montes albanos), que cremavam os seus mortos, sepultando-lhes as cinzas no local do futuro forum. Nessa época as colinas exteriores não eram ainda habitadas.


É por finais do século IX que começam a aparecer os primeiros habitantes nas colinas exteriores. Têm usos fúnebres diferentes. Pertenciam a um novo grupo étnico de “homens da cultura de Vilanova”, o dos antepassados dos sabelo-samnitas.


A tradição fala da fusão da comunidade sabina de Tito Tácio com a latina de Rómulo. A presença de elementos sabinos na antiga Roma está absolutamente confirmada. As duas comunidades ter-se-ão fundido por meados do século VII.

AS QUATRO ETAPAS DE CRESCIMENTO DE ROMA DURANTE O “PERÍODO DOS REIS”

O mais antigo núcleo foi o da chamada Roma quadrata, a designação dada por alguns escritores romanos à antiquíssima aldeia do Palatino, dos começos do I milénio. O segundo estádio terá dado origem à memória da “cidade das sete colinas”, que se conservou na festa homónima (septimontium). Terá existido, provavelmente, no século VIII. Não se lhe conhecem os limites precisos, mas supõe-se que as sete colinas seriam as duas elevações do Palatino (mais propriamente, o Palatino e o Gérmalo), a colina de Vélia, que ligava o Palatino ao Esquilino, as três elevações ocidentais do Esquilino (Císpio, Fagutal, Ópio) e o Célio.


Discute-se se terá sido uma comunidade única, circundada por um sistema de fortificações, ou se seria apenas uma união de sete aldeias autónomas. O facto é que deste período não há vestígios de obras defensivas.


De todo modo, a tradição da “cidade das sete colinas” testemunha um avanço da povoação palatina em direcção ao Esquilino, expansão que “preparou” a união das aldeias latinas e sabinas.


No estádio seguinte, o dos “quatro distritos”, talvez por meados do século VII, Roma divide-se na região Palatina, na Suburana (Célio), na Esquilina e na Colina (o Quirinal e o Viminal).


Roma havia-se ampliado em direcção ao Quirinal e compreendia então cinco colinas principais: Palatino, Esquilino, Célio, Quirinal e Viminal.


As outras duas colinas, o Capitólio e o Aventino, não seriam ainda habitadas no século VII ou, pelo menos, não estavam ainda incluídas dentro da cerca sagrada da cidade (pomerium).


O último estádio foi o da “cidade de Sérvio Túlio”, no século VI. A tradição afirma que no seu reinado a cidade foi cercada de muros. E de facto, entre os restos das obras defensivas do século IV, encontraram-se ruínas de construções mais antigas, talvez daquele século.


Também só nesta época, provavelmente, a colina do Capitólio terá sido incluída no recinto da cidade.
O Aventino, com a sua população, só viria a fazer parte da urbe por volta dos meados do século V.
(Como já deve ter-se reparado, a História não é “lá muito certa”. É claro que sobre a expansão da cidade há outras teses. Por exemplo, o Atlas Stock “não está cá com peneiras” e faz logo Roma “meia-acabadinha”: «Por volta de 750, fundação de Roma por uma coligação de Latinos (Roma quadrata) e de Sabinos (Esquilino, Viminal e Quirinal), mas com influência etrusca (o nome vem de uma gens etrusca – Ruma)»).

A LENDA DA FUNDAÇÃO DE ROMA

A lenda, que inspirou o poeta Virgílio, foi ganhando forma por sucessivas elaborações de autores gregos e romanos. Conta ela que o troiano Eneias, filho de Afrodite e Anquises, tendo sobrevivido à destruição de Tróia, foge com o seu filho Ascânio (ou Iúlo, filho de Creúsa). Depois de muito errar, chega por fim às costas do Lácio, onde é recebido amigavelmente por Latino, rei das tribos aborígenes, que lhe dá por esposa sua filha, a latina Lavínia.


Após a morte de Eneias, Ascânio cria uma nova cidade, Albalonga, de que foi rei (numa das variantes da lenda, esse Ascânio, fundador de Alba, já é concebido como “meio-latino”, sendo filho de Eneias e de Lavínia).


Algumas gerações depois, Numitor era o rei em Albalonga. Amúlio, irmão de Numitor, destrona-o, tornando-se por sua vez rei, e obriga a filha de Numitor, Rhea Silvia, a fazer-se vestal. Esta, apesar do seu voto de castidade, teve do deus Marte dois gémeos. Então Numitor condena Rhea à morte e ordena que os gémeos sejam lançados ao Tibre. Os servos disso encarregues deixaram o cesto junto à margem, onde as águas eram pouco profundas. Quando o nível das águas baixou, o cesto deu em terra e o choro dos gémeos fez acudir uma loba, que os nutriu com o seu leite. Pouco depois são encontrados pelo pastor Fausto, que se apiedou deles e os recolheu, fazendo-os criar pela sua mulher, Larentia. Deram-lhes os nomes de Rómulo e Remo.


Já crescidos, os gémeos entretinham-se a caçar na floresta e a pilhar os ladrões, repartindo depois o saque com os pastores. Tendo descoberto o segredo do seu nascimento, matam Amúlio e repõem no trono o avô, Numitor. Mais tarde, não querendo continuar a viver em Albalonga, decidem fundar uma nova cidade no local onde haviam sido encontrados.


Quando traçavam o sulco que havia de delimitar o território da cidade, querelam entre si e Rómulo mata o irmão, dando à cidade o seu próprio nome. Segundo Varrão, isto “aconteceu” em 753.

A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LENDA

Esta é a variante mais difundida da lenda, que ganhou forma definitiva no século I ae e que nos foi transmitida, primeiramente, nos escritos de Cícero, Lívio e Dionísio, e mais tarde, por Plutarco.


Porém a lenda já havia surgido muito antes, não em Itália, mas na Grécia. Os seus primeiros rastos encontram-se em Helánico de Lesbos, do século V. Para este autor, o fundador de Roma é o próprio Eneias.


Quando a lenda chegou a Itália, verificou-se um paradoxo. Haviam decorrido cerca de 670 anos desde a destruição de Tróia (em 1184, segundo a tradição grega) até à expulsão em 510 de Tarquínio o Soberbo. Esse período de tempo era demasiado longo para poder ser preenchido com a série dos sete reis tradicionais. Por isso, entre Eneias e Rómulo, é introduzida toda uma série de personagens.


Numa outra das mais antigas variantes gregas da lenda, figuraria um só fundador, Romos, que logo terá sido confrontado, em Itália, com o nome Rómulo (Romulus). Mais tarde, com as “idas e vindas” da lenda entre a Grécia e a Itália, os nomes de Romos e Rómulo, referidos como irmãos, já surgem a par em alguns textos. Havendo-se assim desdobrado a figura do fundador, o nome etrusco-latino, “Rómulo”, permaneceu e a designação grega, “Romos”, transmutada no seu gémeo, acabou por cristalizar-se na forma nominal “Remo” (ver: Dionísio, I, 72 e 73; Plutarco, “Rómulo”, VI, 2;). Deste modo terão “nascido” os dois irmãos gémeos.


Kovaliov, subscrevendo em geral esta tese, fazia-lhe um acréscimo: o nome Romulus não seria mais do que uma corruptela etrusco-latina do nome grego Romos. Assim, o herói epónimo fundador de Roma não passaria de uma ficção helena que os romanos posteriormente haviam adoptado. Porém, face aos elementos claramente latinos da lenda, parece bem mais razoável de acreditar que os romanos, com base na tradição lendária latina, hajam “inventado” o seu próprio herói epónimo fundador, sem necessidade de nisso fazer intervir, de um modo determinante, a influência grega.


Já no que diz respeito a muitos outros aspectos do mito das origens dos romanos, é manifesto ter ocorrido uma mescla de lendas gregas e latinas, por exemplo, da lenda de Eneias com as tradições locais sobre Alba e os sete reis romanos, e os inevitáveis “retoques”. O próprio Tito Lívio nos confessa o seu espanto perante essa mescla: «Ascânio teve por sucessor o seu filho Silvius, nascido, não sei por que acaso, na profundeza das florestas...a partir de então Silvius foi o sobrenome comum a todos os reis de Alba». Ou seja, Lívio não consegue encontrar uma explicação para o facto de, na lenda, Silvius, filho e sucessor do civilizado e “citadino” Ascânio, haver nascido em tão agreste meio. Hoje, todavia, a solução já não se revelará complicada: os de Alba eram “sílvios” porque viviam da floresta (silva em latim; aliás, recordemos que também a mãe de Rómulo tinha por nome Silvia); e esta narrativa sobre os “sílvios” de Alba representava uma lenda local (reflectindo uma realidade de antanho), sendo-lhe o mito grego de Eneias e Ascânio posteriormente miscegenado.


Segundo informa Kovaliov, no museu de Bolonha encontrar-se-ia uma lápide, talvez do século IV ae, onde se representa uma loba amamentando um só menino. O conhecido grupo da loba capitolina, no museu do Palazzo dei Conservatori em Roma, que se fazia remontar aos inícios do século V ae, representa os dois meninos, contudo as figuras das crianças foram feitas muito mais tarde, na época do Renascimento (e recentemente, é até a própria datação da loba capitolina que começa a ser posta em causa).


Tudo leva a crer que a versão dos gémeos haja surgido em época posterior ao século V ae, e que só tenha sido recolhida pelos primeiros analistas, em Roma, nos inícios do século III ae. O “tema” da criança arrojada ao rio, depois encontrada, repete a “história” de Sargão de Accad, de Moisés, etc. E não é o único tema lendário “comum” que encontramos na lenda. No século I da era a lenda é consagrada oficialmente, com a intenção de “demonstrar” a ascendência divina da estirpe Júlia, o que nos esclarece sobre a inclusão nela de um Ascânio que muda o seu nome para Iúlo.



O PERÍODO DOS REIS
SEGUNDO A TRADIÇÃO



A LISTA DOS SETE REIS

A tradição é invariável, citando-os sempre pelos mesmos nomes e a mesma ordem. Esta invariabilidade na lista dos reis pode levar a supor que se formou muito cedo, provavelmente muito antes do século III ae, época em que lhe aparecem as primeiras referências nas fontes literárias. Acresce, a indiciar-lhe a antiguidade, que dos nomes dos seis reis que sucederam a Rómulo, só um, o de Marcius, é assinalável entre os nomes gentílicos das famílias patrícias mais influentes nos séculos V e IV ae, o que nos permite excluir a hipótese de haverem sido essas famílias a inventá-los.


Segundo Kovaliov, ao contrário do que acontece com Rómulo, os nomes dos restantes reis não se configuram como epónimos, pelo que nada teriam a ver com mitos etiológicos.

RÓMULO

Além da criação do povoado no Palatino, atribuiu-se a Rómulo a constituição de um senado com 100 “pais”. Teria sido ainda ele a estabelecer os símbolos da autoridade suprema, os 12 lictores. Sempre segundo a tradição, dividiu o povo em 30 cúrias, designando-as com os nomes das mulheres sabinas, fundou as 3 tribos, Ramnes, Tities, Luceres, e instituiu um refúgio para os fugitivos (asylum), procurando assim aumentar a população da cidade.


Durante o seu reinado ter-se-ia dado a fusão com a comunidade sabina, acontecimento que nos é transmitido pela lenda das sabinas.


Necessitando os romanos de mulheres, Rómulo organiza uma grande festa e convida os vizinhos. Entre os visitantes estão os sabinos, que trouxeram as esposas e as filhas. No desenrolar da festa, inesperadamente, a juventude romana captura as raparigas. Os pais fogem para as suas aldeias, estupefactos e ofendidos pela grave violação dos romanos às leis da hospitalidade. Dali nasceu uma áspera querela com os sabinos do rei Tito Tácio. Porém, na batalha decisiva, as mulheres sabinas interpuseram-se entre as duas hostes, pacificando os adversários. Os sabinos juntaram-se aos romanos num Estado único, com Tito Tácio e Rómulo no poder. À morte de Tito o poder passou a Rómulo.


A tradição apresenta duas versões para o desaparecimento de Rómulo: a de que ascendeu ainda em vida aos céus; e a bem mais prosaica de que o haveriam assassinado os senadores.

NUMA POMPÍLIO

Diz a tradição que era um sabino da cidade de Cures. Após a morte de Rómulo é eleito pelo senado, devido ao seu sentido de justiça. Atribui-se-lhe a organização religiosa romana, com a criação dos colégios sacerdotais, do calendário, etc.


O nome Pompílio parece ser de facto sabino. E a tradição conta que, chegado a Roma, se estabelece primeiro no Quirinal, fazendo construir depois para si um palácio na colina de Vélia.

TULO HOSTÍLIO E ANCO MÁRCIO

Tulo distinguiu-se como guerreiro e destruiu Albalonga, transferindo-lhe a população a Roma. Deu-lhes o direito de cidade e nomeou senadores os seus notáveis. Terá também combatido contra Fidena e Veii (Veios) e os sabinos.


A destruição de Albalonga é um facto histórico, mas a tradição apresenta-a misturada com episódios lendários, como o da luta entre Horácios e Curiáceos, o do cruel castigo do traidor Mécio Fuffécio, etc.


Facto histórico é também a construção do palácio do senado chamado de “Cúria de Hostílio”, edifício que efectivamente existiu em Roma, sendo considerado um dos mais antigos.


Anco seria neto de Numa, portanto, também sabino. Teria continuado a acção do avô no campo da organização religiosa da cidade e travado numerosas guerras.


Muitos dos episódios atribuídos a Anco são de datas posteriores: o translado dos habitantes de cidades latinas para o Aventino, a união à cidade do Janículo (colina da margem direita do Tibre), com a sua inclusão intramuros, a construção do porto de Óstia, etc.


Porém, em traços gerais, a expansão nessa época de Roma em direcção ao mar e sobre a margem etrusca do Tibre é um facto histórico.

TARQUÍNIO PRISCO

(Prisco = “o Antigo”) Diz a tradição que, no reinado de Anco Márcio, chegou a Roma, proveniente da cidade de Tarquínios, um homem rico e enérgico chamado Lucmon (Lucumão), filho do coríntio Demarato. Estabelecendo-se em Roma, tomou o nome de Lúcio Tarquínio. Rico e de carácter simpático, à morte de Anco é eleito rei.


Tarquínio empreendeu guerras vitoriosas contra os vizinhos, aumentou de 100 o número dos senadores, instituiu jogos públicos e iniciou a drenagem das zonas pantanosas da cidade, mandando para tal construir canais.


A tradição põe em evidência a origem etrusca do quinto rei de Roma e diz que o sétimo rei, Lúcio Tarquínio o Soberbo, era filho de Prisco.


Encontraram-se inscrições que confirmam a origem etrusca da estirpe dos Tarquínios. Na chamada “tumba François”, em Vulci (Etrúria), ao lado de uma das figuras gravadas na parede, pode ler-se: «Cneve Tarchunies Rumach» (Gneu Tarquínio de Roma). Em Cere (Caere, também cidade da Etrúria meridional), encontrou-se uma rica tumba da família dos Tarquínios. Ora, segundo Tito Lívio (I, 60), foi em Cere que se refugiou Tarquínio o Soberbo, após a sua expulsão de Roma.


Somando a isto as numerosas influências etruscas no idioma, nos costumes, na organização política e religiosa dos romanos, a grande expansão etrusca no Lácio e na Campânia (Túsculo, Cápua) e a existência em Roma de um bairro etrusco (tuscus vicus), a maioria dos historiadores contemporâneos aceita a hipótese de Roma haver sido conquistada pelos etruscos na segunda metade do período dos reis, que ali terão imposto uma dinastia própria.


No entanto, não é provável que o bairro etrusco de Roma tenha sido extenso, dado que não se encontraram restos de sepulturas etruscas. Por outro lado, o facto de ali haver uma colónia etrusca não significa que eles dominassem a cidade. Se os etruscos se houvessem apoderado de Roma por largo tempo, não teriam sido considerados como estrangeiros pertencentes a uma colónia própria. Ora é assim que a tradição os descreve, como uma colónia de estrangeiros. Acresce que, segundo a lenda, Tarquínio Prisco veio a Roma pacificamente.

SÉRVIO TÚLIO

Seria filho de uma mulher nobre da cidade latina de Cornícolo (Corniculum). Caído prisioneiro dos romanos ainda em criança, foi criado no palácio de Tarquínio, tendo sabido ganhar a estima dos cortesãos, dos senadores e do povo. Casou-se com a filha de Tarquínio.


Tarquínio é morto pelos filhos de Anco Márcio e Sérvio toma o poder, com a ajuda da viúva do rei e a aprovação do senado. Esta é a tradição comum.


Mas há uma variante, a do Imperador Cláudio, exposta num discurso perante o senado (século I da era). Segundo ele, os autores etruscos afirmavam que Sérvio Túlio era Mastarna, um aventureiro etrusco expulso da Etrúria que se estabeleceu em Roma, ali chegando a ser rei, depois de haver mudado o seu nome.


Em todo o caso, a tradição atribui a Sérvio Túlio acontecimentos de uma tal importância, e tão concretos, que é difícil considerá-los como imaginários. É o caso da célebre reforma do censo. Nem tudo será verdade, mas os traços gerais da sua descrição produzem a impressão dela haver sido bem real.


E é de assinalar que a memória deste rei se manteve muito viva, sobretudo entre os plebeus, que celebravam todos os meses uma festa em sua honra.

TARQUÍNIO O SOBERBO

O filho de Tarquínio Prisco conquistou o poder pela força, após matar o sogro (era casado com a filha de Sérvio Túlio). O seu governo foi de carácter despótico; não atendia aos conselhos do senado e recorreu à repressão. Após a sua deposição, os etruscos haveriam tentado repô-lo no trono.

VOLTA P/ PARTE 2

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4 HISTÓRIA DE ROMA: sociedade no período dos reis escrito em terça 29 janeiro 2008 08:15

Etruscan bronze head, with inlaid eyes, of a Roman,
so-called Lucius Junius Brutus, leader of the rebellion against Tarquinius.
Capitoline Museums, Rome. In: www.the-romans.co.uk.




HISTÓRIA DE ROMA



Parte 4


Escrito por Jorge Almeida

25-Ago-2006
extraído do site: O Espaço da História



A COMUNIDADE ROMANA
NO PERÍODO DOS REIS

OS PATRÍCIOS

A palavra deriva de pater, e o mais provável é que nos inícios fossem chamados patrícios os que descendiam de pais legítimos e que, por isso, podiam também ter filhos legítimos. Ou seja, os patrícios ter-se-ão regido pelos costumes do direito paterno (o patriarcado). Segundo esses costumes, a herança do nome e dos bens transmitia-se por via masculina e os laços de parentesco válidos eram apenas os que derivavam do pai.


Na família patrícia, o pai da família (pater familias) detinha uma autoridade absoluta sobre todos os familiares, tinha o direito de castigá-los e o direito de reduzi-los à escravatura. Tinha sobre eles o que os juristas romanos chamaram “o direito de vida e de morte” (jus vitae necisque).


As “gentes” patrícias terão sido 300, segundo a tradição. Distinguiam-se pelo nomen, comum a todos os membros de uma delas.


Em geral, os patrícios romanos usavam três nomes: o nome próprio, praenomen; o nome da gens; e o nome da família, cognomen. Exemplo: Lúcio (praenomen) Cornélio (nomen gentilicium) Sila (cognomen).
Os patrícios conservaram, por muito tempo, o direito de herança da gens: os bens do falecido não podiam sair da gens.


Tal instituição prova ter existido uma comunidade de bens entre os membros da gens, sobretudo no que respeita à terra. Aliás, a tradição afirma que as famílias patrícias dos tempos dos reis só possuíam em propriedade privada duas jugera de terra (jugerum = 2523 m2; plural: jugera), meio hectare. Tratar-se-ia de uma parcela adjacente (o horto ou jardim) à terra da gens, dado que a terra de pastoreio ou de cultivo era propriedade de toda a comunidade patrícia.


Sobre esta terra comum as diversas famílias tinham direitos de posse (o jus possessionis), não possuindo o direito de propriedade privada.


Há outros vestígios da antiga estrutura social da gens patrícia, no culto dos mortos e nas sepulturas. A tradição assinala que as gentes patrícias tinham, quanto a isso, usos diversos (vieram, pois, de comunidades de clã diferentes). Por exemplo, Cícero diz que a gens dos Cornélios enterrava os seus mortos sem os cremar.


As gentes patrícias eram também “exógamas”: aos seus membros não era permitido o matrimónio dentro da gens.


Segundo algumas das fontes, os patrícios dividiam-se nas três tribos de Ramnes, Tities e Luceres. Durante muito tempo, considerou-se que estas 3 tribos eram compostas pelos elementos “originários”: uma tribo de sabinos, uma outra de latinos e uma terceira etrusca. Mas tal tese foi completamente posta de lado. Hoje tende-se para a hipótese delas terem resultado da divisão de uma única tribo.


Essa divisão em três núcleos também se encontra noutras tribos itálicas, como os úmbrios e os sabinos, e não é muito diferente da que se verificou entre dórios e jónios na Grécia (as phylai). Sempre segundo a tradição, cada tribo dividia-se em 10 cúrias; cada cúria em 10 décadas (gentes); cada década em 10 famílias. Haveria assim, no total, 30 cúrias, 300 gentes e 3.000 famílias, o que leva a pensar que esta primeira divisão haja sido intencional, talvez com finalidade bélica.


As fontes referem as cúrias, e a sua existência é confirmada pelo mais antigo calendário romano. A atender às poucas denominações que nos chegaram, as cúrias teriam já um carácter territorial. Cada cúria era dirigida por um ancião (curião) e reunia-se num edifício próprio. Não conhecemos as funções desempenhadas por estas reuniões.

OS CLIENTES

A palavra “cliente” significa “pessoa obediente”, “dependente” e, com efeito, eles dependiam dos chefes das diversas gentes e famílias patrícias, a quem chamavam “patrões”, isto é, “protectores”, “defensores”.


Chamava-se clientela ou patronato ao vínculo que unia os patrões com os clientes. Na base jurídica do vínculo estava o princípio dos serviços recíprocos: o cliente recebia do patrão a terra e o gado, gozava do seu auxílio perante o tribunal; em troca, estava obrigado a servir na milícia do patrão e, em alguns casos, também a ajudá-lo financeiramente; cumpria ainda diversas tarefas que o patrão lhe exigia.


O cliente entrava na gens do patrão na qualidade de membro “júnior”. Tomava parte no culto familiar e nas reuniões das cúrias.


Modo geral, os clientes provinham de grupos económica e socialmente mais débeis: estrangeiros, libertos, filhos emancipados da autoridade paterna, filhos ilegítimos.


No período dos reis e no primeiro período da República, a clientela foi uma sólida base de apoio social para os patrícios.


A Lei das 12 Tábuas refere-se-lhes: «Patronus si clienti fraudem fecerit, sacer esto» (patrão que engane o seu cliente, que seja execrado).

OS PLEBEUS

Os termos plebeius, plebs, são em geral usados com o sentido de “massas”, “povo”. Diversamente, no período antigo, eles formavam um grupo da população que estava de fora da organização social dos patrícios e que, por isso, estava fora da comunidade romana.


Na última época da república, também aparecem entre os plebeus a família de tipo patriarcal, a organização em gens, o uso dos 3 nomes, etc. No período antigo nada disto se verifica.


Enquanto os patrícios viviam no sistema da propriedade social da terra, os plebeus viviam no sistema da propriedade privada, mas sem acesso à terra.


(Já vimos que no início não havia o direito de propriedade privada sobre a terra, apenas o direito de posse, o jus possessionis; e os plebeus, “proprietários privados”, não gozavam do jus possessionis. Esta situação de desfavorecimento social dos privados, no início da desagregação da comunidade primitiva, é comum.


A título de exemplo, veja-se “Os Argonautas do Pacífico” de Malinowski, sobre as ilhas Trobriand no Pacífico. Ali não há tipo mais desprezível do que o artesão/comerciante, segundo a opinião geral). A descendência dos plebeus era chamada incerta proles, o que significa que não se regiam pelas regras do direito paterno ou, pelo menos, que esse direito não lhes era oficialmente reconhecido.


Gozavam dos direitos civis, portanto, podiam ocupar-se do comércio e adquirir propriedades (jus commercii) (porém, não a terra “patrícia”). Mas não gozavam dos direitos políticos, não participavam nas reuniões das cúrias, não estavam representados no senado e não serviam nas milícias cidadãs (e, assim, não podiam deitar mão ao despojo de guerra).


Os matrimónios entre patrícios e plebeus foram ilegais até meados do século V ae. Os plebeus tinham templos e santuários próprios.

AS ORIGENS DE PATRÍCIOS E PLEBEUS

A tradição apresenta dois pontos de vista contraditórios sobre a origem destes grupos sociais. Segundo o primeiro, só os patrícios eram cidadãos, enquanto que os plebeus formavam a massa popular. No segundo, os patrícios são os “notáveis”, os “nobres”.


As contradições das fontes geraram numerosas teorias (Ou: à “confusão” das fontes juntou-se a “confusão” dos historiadores; porém, é da “confusão” que nasce a luz...às vezes). Estas teorias podem dividir-se em três grandes grupos.


O primeiro grupo teve por “pai” o historiador Niebuhr, nos princípios do século XIX. Os patrícios seriam o núcleo cidadão mais antigo. Já os plebeus eram habitantes de outras comunidades que se haviam transladado a Roma. Uns terão vindo voluntariamente, os outros, trazidos à força.


O segundo grupo dá particular atenção às características próprias de cada estrato, afirmando que patrícios e plebeus são originários de duas tribos distintas, uma tendo submetida a outra.


A terceira, a teoria mais difundida, supõe que a divisão terá surgido de processos económico-sociais. Ambas as classes teriam a mesma origem étnica. Os plebeus seriam cidadãos originários, tal como os patrícios.


Cada uma destas teorias “escolhe” entre as versões da tradição. Concentra a sua atenção numas, ignorando as outras. Mas as diversas fontes espelham diferentes estádios na formação destas classes. Por exemplo, a versão que afirma haverem sido os patrícios os cidadãos originários é mais antiga do que a versão que os designa como «notáveis».

TEORIA “TOTAL” SOBRE A ORIGEM DE PATRÍCIOS E PLEBEUS

Tendo em conta o referido, e não “esquecendo” algumas das fontes, podemos tentar dar vida a uma teoria mais completa sobre a origem das classes romanas. Chamemos-lhe teoria total (diz Kovaliov).


Os patrícios formavam, de facto, o povo romano em pleno gozo dos seus direitos (o populus romanus). Na sua organização social, fundada na gens, ainda não se evidenciavam grandes diferenças de fortuna. Os patrícios possuíam a terra, viviam sob o direito patriarcal e, para resolver os seus problemas, reuniam-se em comícios curiais. Os clientes estavam na sua dependência directa.


Os plebeus, de um modo geral, distinguiam-se dos clientes, se bem que muitos deles viessem a tornar-se também clientes de famílias patriarcais.


A clientela era um vínculo de dependência privada (directa), enquanto que os plebeus, na expressão de um historiador, eram «os clientes do Estado» (dependência indirecta dos patrícios, pois que o Estado era destes).


Permanecendo os plebeus fora da organização social das gentes patrícias, não pertenciam ao populus romanus. Assim, não tinham direito ao jus possessionis no ager publicus (= “terras públicas”; “terras do Estado”) e estavam privados dos direitos políticos.


Os costumes familiares dos plebeus conservaram restos da consuetudo matriarcal (consuetudo = direito/uso consuetudinário; direito não escrito; o direito do costume, do uso). As suas mulheres gozavam, relativamente às patrícias, de uma maior liberdade.


O seu estatuto radicalmente diverso (do estatuto social de patrícios e clientes) leva-nos a supor que seriam, em parte, de uma origem étnica distinta do patriarcado sabino/latino.


Segundo Marr, os termos “plebeu”, “pelasgo” e “etrusco” tinham um significado equivalente. (Mas Marr era um “criativo”; hoje em dia os criativos podem identificar-se como “belivados”. Quando ouvir na televisão, ler num livro, etc., etc., a expressão “I believe”, está certamente na presença de alguém com fé e imaginação. Exemplos: «Eu “belivo” que encontrei a múmia de Nefertiti»; «Eu “belivo” que Saddam tem armas de destruição maciça».)


É provável que na plebe, nos inícios, houvesse um grande número de emigrantes vindos da Etrúria. Aliás, a tradição refere precisamente isso. (Nesta “teoria total” de Kovaliov falta sublinhar um facto comezinho: a capacidade do “homem patriarcal”de discriminar e maltratar os irmãos “bastardos”, “ilegítimos”. A título de exemplo, as crianças-bomba contra os russos, no Afeganistão, eram órfãs.)


Com o decurso do tempo, os patrícios foram-se isolando socialmente, transformando-se num pequeno grupo fechado de nobres que enfrentava a massa crescente dos plebeus. Este processo teve lugar já nos alvores da República.

A DEMOCRACIA MILITAR

A comunidade romana da época dos reis apresentava-se como uma cidade-estado primitiva. A assembleia das tribos por cúrias decidia sobre as questões mais importantes da vida da comunidade, declarava a guerra e, juntamente com o senado, elegia o rei ou, mais exactamente, conferia-lhe o poder supremo, o imperium; tratava também dos assuntos judiciais mais graves.


Cada cúria deliberava e decidia separadamente e tinha um voto. A decisão era adoptada pela maioria das cúrias.


O segundo órgão da democracia das tribos era o conselho de anciãos ou senado (a palavra deriva de senex). Os seus membros eram chamados “pais” (patres).


Segundo a tradição, Rómulo nomeou os primeiros 100 senadores. Tulo Hostílio acrescentou outra centena. Por fim Tarquínio o Antigo elevou o seu número para 300.


De qualquer modo, durante o período dos reis e nas épocas posteriores até Sila, o número de senadores será de 300. Nos começos só eram membros do senado os chefes das famílias patrícias. É possível que, mais tarde, os novos senadores hajam passado a ser nomeados pelo rei.


No período entre a morte de um rei e a eleição do novo, a comunidade era dirigida, por turno, por um dos senadores (período chamado de interregnum).


O senado, formalmente, era um órgão consultivo do rei. Gozava porém de grande autoridade; em todas as questões importantes o rei devia ouvi-lo.


Ao rex (rei), há que o imaginar no tipo do basileus grego da época homérica, ou seja, bem longe de ser um monarca absoluto. Seria mais um chefe de tribo não hereditário, eleito vitaliciamente. Era o chefe militar e esta era a sua principal função. Era também o representante da comunidade ante os deuses. Detinha uma certa jurisdição, mas pouco sabemos sobre ela.


É de sublinhar que o carácter e a competência dos vários órgãos da democracia militar romana são temas de grande controvérsia. Também a este respeito a tradição é muito obscura. E só podemos formular hipóteses gerais, fundadas sobretudo no estudo comparado do material histórico (gregos da época de Homero, germanos da época de Tácito).

A REFORMA DE SÉRVIO TÚLIO

Sobre este tema as tradições são particularmente confusas e contraditórias. Contudo a lenda diz-nos que houve, à época, uma ou várias importantes reformas da organização política e militar da comunidade.


Em primeiro lugar, teria surgido a organização territorial das tribos. A tribo territorial é a nova unidade administrativa. As tribos territoriais substituem as três velhas tribos fundadas sobre as gentes. A tradição não nos diz, em qualquer das suas versões, quantas eram as novas tribos. Mas sabe-se que na cidade havia a Palatina, a Suburana, a Esquilina e a Colina. Para o exterior os números da tradição variarão entre as 16 e as 26 tribos já numa época mais avançada.


Em segundo lugar, Sérvio Túlio teria dividido toda a população, tanto patrícios como plebeus, em cinco categorias de possuidores ou classes.


Na primeira classe do censo estavam os que possuíam um património de 100.000 ou mais asses (um lote completo de terras; talvez de 20 jugera). Os mais ricos desta classe serviam a cavalo e, por isso, eram chamados “cavaleiros” (equites). Os equites formavam 18 centúrias (6 de patrícios e 12 plebeias; mas isto já muito mais tarde). Os restantes da primeira classe serviam a pé, com o pesado equipamento completo da infantaria: elmo, couraça, polainas, escudo, lança e espada. Formavam 80 centúrias de infantaria pesada.


Na segunda classe, os possuidores de 75.000 asses (15 jugera ou 3,75 hectares). Na terceira classe, os que detinham 50.000 asses (meio lote, 10 jugera ou 2,5 hectares). Os da segunda e terceira classe apresentavam-se com armaduras ligeiras, formando ao todo 40 centúrias (20 centúrias a cada classe).
Na quarta classe estavam os que possuíam um património de 25.000 asses (5 jugera ou 1,25 hectares). Constituíam 20 centúrias.


Da quinta classe, os de património não inferior a 12.500 asses (2,5 jugera), segundo Dionísio. Tito Lívio diz 11.000 asses. Eram 30 as suas centúrias. Os da quarta e quinta classe não usavam armadura.


Em cada classe, cada um armava-se à sua própria custa e, precisamente por isso, o armamento diferia de classe para classe.


Em todas as classes, metade das centúrias eram compostas de seniores (homens dos 46 aos 60 anos), a outra metade por juniores (dos 17 aos 45 anos de idade). As centúrias de seniores normalmente prestavam serviço de guarnição.


Os restantes cidadãos constituíam a infra classem (“classe inferior” ou “os sem classe”). Eram chamados proletarii (da palavra proles), ou seja, “os que só possuíam os seus filhos”. Eram ainda chamados capiti censi (recenseados ou contados apenas por “cabeça”; cidadão que só conta no Estado pelo número de filhos que tem). Estavam excluídos do serviço militar. Apenas uma centúria era formada pelos proletários.


Havia ainda 4 centúrias de operários e músicos militares.



Admitindo os plebeus no exército, era forçoso conceder-lhes alguns direitos políticos. E Sérvio Túlio tê-lo-á feito pela criação de uma nova forma de assembleia popular, onde participariam patrícios e plebeus, os comitia centuriata.


Cada centúria contava como um voto. Os cidadãos votavam dentro da sua centúria e as decisões eram tomadas com a aprovação da maioria das centúrias.


Assim, era forçoso que o número de indivíduos em cada centúria variasse de classe para classe, havendo um menor número de pessoas nas centúrias dos mais ricos. Caso contrário, teríamos de admitir que em Roma havia mais rico do que pobres ou que os ricos eram mais numerosos que a classe média, pois que havia 98 centúrias da primeira classe contra as 95 centúrias de todas as outras classes.


Os comícios por centúrias acabaram por assumir as funções mais importantes dos comícios por cúrias (comitia curiata), na declaração da guerra, na eleição dos magistrados, etc. Se bem que as cúrias tenham continuado a existir, elas perderam a sua antiga importância.


Esta foi, segundo a tradição, a reforma de Sérvio Túlio. Muito do que nela é referido não é digno de crédito ou pertence a épocas posteriores. Por exemplo, o censo mediante a avaliação em asses do património. O asse (como lingote) não apareceu antes do século IV, o que leva a maioria dos historiadores a supor que o censo com base numa quantidade de dinheiro (não confundir dinheiro com moeda; lingotes de metal já são dinheiro) tenha sido introduzido por Ápio Cláudio, em 312.


E, segundo Diakov, só mais tarde, no decurso do século III, tendo sofrido uma apreciável desvalorização, o asse passou a ser moeda. De um lingote maciço de uma libra de cobre, é reduzido a uma ínfima parte desse peso, e será só então que o lote de 20 jugera passou a ser avaliado em 100.000 asses.


De início, o censo há-de ter-se baseado na terra possuída (e no gado, pelo menos). A divisão em cinco classes é pouco verosímil no século VI. Mas é provável que então os cidadãos tenham sido divididos em duas classes.


Aliás, é de estranhar a semelhança entre a reforma de Sérvio Túlio e as de Sólon e de Clístenes, o que faz supor ter havido uma “reelaboração” do passado pelos analistas. “Reelaboração” feita com base na historiografia grega.


Em todo o caso, a organização por centúrias (como unidade administrativa e não como unidade militar táctica, que nunca foi), tal como é descrita pela tradição, não existiu antes dos finais do século IV. (A centúria nunca foi unidade táctica do exército. Muito mais tarde, foi uma subdivisão da unidade táctica: o manípulo. Centúria administrativa era uma “coisa”; centúria que veio a ser a metade de um manípulo “é outra coisa”).


O que é de admitir: Nos finais do período dos reis, sob o reinado de Sérvio Túlio, os plebeus terão sido admitidos no exército (militia). Terá sido feita a divisão dos cidadãos com base na sua riqueza, sendo criadas, provavelmente, duas categorias. Isto levou a que as velhas unidades sociais gentílicas (que excluíam os plebeus) fossem substituídas por novas unidades territoriais, originando as novas tribos, segundo os quatro antigos distritos da cidade.


Engels: «Antes de ter sido suprimido em Roma o cargo de rex, foi suprimida a antiga ordem social, fundada nos laços do sangue, e foi substituída por uma verdadeira Constituição do Estado, baseada na divisão territorial e nas diferenças de fortuna. A força pública consistia, aqui, no conjunto dos cidadãos sujeitos ao serviço militar, não apenas contrapostos aos escravos mas também à classe proletária, excluída do serviço militar e do porte de armas.»


Tito Lívio (livro I, 36) diz que já Tarquínio o Antigo queria «acrescentar novas centúrias às dos cavaleiros recrutadas por Rómulo e denominá-las pelo seu próprio nome». Mas o áugure Attus Navius declarou que «nesse assunto não eram possíveis inovações sem o consentimento dos deuses». Ou seja, já Tarquínio tentara a reforma, sendo obrigado pelos patrícios a renunciar a tal. O seu sucessor, Sérvio, terá conseguido realizá-la.


Mas, diz Lívio, os “pais” estavam descontentes por a terra tomada ao inimigo ser repartida com os plebeus, e este descontentamento terá sido aproveitado pelo último Tarquínio contra Sérvio Túlio (Lívio, I, 47): «Protegeu os da classe inferior, a que ele próprio pertencia (dizia Tarquínio aos senadores), e invejando a posição honorável dos outros, dividiu pelas pessoas mais desprezíveis as terras tomadas aos primeiros homens do Estado. Impôs aos nobres as obrigações que sempre haviam sido comuns a todos (só se pode entender como obrigações que antes eram de todos e que passaram a ser apenas exigidas aos “notáveis”). Ordenou o censo para que se conheça a situação dos ricos e se suscite a inveja, e para ter à mão a fonte a que recorrer em caso de necessidade, para satisfazer aos ávidos.»


Diakov defende a hipótese de, na época calcolítica e no princípio da idade do bronze, na época da civilização dos “terramares”, os itálicos estarem ainda no estádio do matriarcado, isto porque a sua economia rudimentar de caça, pesca, pastoreio do gado miúdo e de agricultura à enxada, praticada sobretudo pelas mulheres, não poderia originar ainda um direito patriarcal.


Subsistiram traços do totemismo nos nomes de certos povos itálicos e no culto de animais considerados sagrados. Em Roma, serpentes, gansos e lobos.


Dá-se gradualmente a passagem para uma economia de pastorícia de gado graúdo e de agricultura a arado. Dadas as características favoráveis de solo e clima, o patriarcado ter-se-á constituído cedo em Itália, no apogeu da idade do bronze.


No Lácio os trabalhos de drenagem haviam sido abandonados, os pântanos haviam ganho terreno. Os protolatinos constroem lugares de refúgio nas colinas escarpadas. Segundo a tradição, esses locais eram em número de 30, com os seus cantões dependentes. O principal era Alba a Longa, um centro religioso, onde os habitantes dos 30 cantões se reuniam na festa comum do Júpiter latino.


Os protolatinos viviam no alto dessas colinas, em cabanas miseráveis, dedicando-se sobretudo à pastorícia e a uma agricultura primitiva nos vales mais secos.


Segundo a tradição, sete aldeias de pastores, dispersas no meio de uma densa floresta e de pântanos lodosos, cedo fundaram a sua confederação das “sete colinas”, com a sua cidadela comum no alto do Palatino.


Na colina mais próxima do Palatino, a de Vélia, ergueram o santuário dos antepassados comuns (os penates) e do “lar” público, o templo circular de Vesta, onde as virgens vestais mantinham perpetuamente aceso o fogo sagrado.


No Aventino terá existido um povoado lígure, que teria sido tomado pela força ainda antes do ataque a Albalonga (já vimos que há uma tese diferente). Após a destruição de Albalonga, a festa de Júpiter latino passou a Roma.


Segundo alguns historiadores, Roma estaria então inscrita na lista dos confederados latinos com o nome de Vélia. Desde tempos remotos, sobre o Tibre, na Salaria via, havia sido construída uma ponte de madeira sob pilares, confiada à guarda dos “pontífices”. Será esta a origem do colégio religioso homónimo.

O CLÃ ROMANO. PATRÍCIOS E CLIENTES. PLEBEUS

Desde tempos imemoriais, o povo romano foi uma associação de clãs (gentes). Viviam economicamente em vaso fechado, isto é, em comunidades que se dedicavam sobretudo à pastorícia. O solo era considerado propriedade comum do clã, o seu património ou “pátria” (patria).


No início da época patriarcal a propriedade privada limitar-se-ia ao gado, às armas, jóias, utensílios domésticos e a pequenas hortas de 2 jugera. A terra que não estava no domínio das gentes era considerada como pertencendo a todo o povo (ager publicus). Os membros de qualquer gens podiam fazer occupatio de terras do ager publicus, para as cultivarem. Desta forma tomavam delas possessio.


Todos os membros da gens em condições de pegar em armas tomavam parte na guerra, que assumia a forma de razias nas terras vizinhas, com o objectivo de recolher saque, gado sobretudo. Havia igualmente que repelir as incursões inimigas do mesmo tipo. A vendetta era também uma das funções das milícias dos clãs.


No clã patriarcal vigorava o princípio da fraternidade de todos os descendentes de um antepassado comum. O seu túmulo, geralmente mítico, era um lugar sagrado para a gens, o centro da necrópole do clã e do culto dos antepassados.


Assinalando a sua origem, todos os membros do clã usavam o nome comum, derivado do nome do antepassado. Os Julii eram os descendentes de Julo, os Claudii de Clausus, etc.


O pater familias, nos tempos mais remotos, aceitava os recém-nascidos na gens, vendia as filhas para se casarem, bania, dispunha a seu arbítrio dos bens e do trabalho comuns.


O casamento efectuava-se então por rapto ou compra da noiva. As mulheres casadas, como estrangeiras ao clã, mantinham o nome da sua gens originária e não gozavam de qualquer direito.


Foi-se dando uma diferenciação de fortunas e de prestígio entre as gentes, sendo umas qualificadas de “maiores” (100, segundo a tradição), as outras como “menores” (no século V haveria já 160 gentes menores).


Também no interior da gens se vai verificando diferenciação. Os seus chefes (patres), os seus irmãos e filhos, começam a formar uma “aristocracia de berço”. A sua descendência toma o nome de patrícios (filhos de patres). Aproveitando a sua posição privilegiada no seio da gens, apropriam-se de terras até então comuns, bem como dos santuários das gentes. Reduzem os outros membros da gens ao estado de “clientes”.


Os clientes recebem o seu lote de terra das mãos dos patrícios, que consideram como “patrões” (“os que recebem do pai”). Fazem a guerra sob o seu comando. Ajudam-nos a pagar resgate se são feitos prisioneiros. Contribuem para o dote das suas filhas (portanto, agora já não se compra a noiva).


(Muito do que Diakov afirma é tomado na História Comparada. Ele “interpreta” a tradição nessa base). Os historiadores divergem de opinião quanto à origem e condição dos plebeus. Ao que parece, a maioria da plebe terá sido formada pela antiga população do Lácio, que foi subjugada (uma das três teses que já conhecemos). A ela ter-se-ão juntado colonos vindos de diversos pontos de Itália.


Os plebeus não tinham organização de clã, não viviam em regime comunitário, mas sob o regime da economia privada familiar. Não praticavam o culto dos antepassados. A sua divindade principal era Ceres, deusa da fecundidade, cujo templo se erguia no Aventino, fora das muralhas da cidade.


Na sua maioria, os plebeus “sem antepassados” eram pequenos agricultores. Alguns exerciam ofícios artesanais ou entregavam-se ao comércio miúdo.


Sem acesso às pastagens e às terras aráveis das gentes, por não lhes pertencerem, só podiam arrendar aos patrícios as terras do ager publicus, pois os patrícios eram os únicos que a elas tinham acesso (esta tese está em confronto com uma outra, já enunciada: a de que os plebeus receberiam as suas terras do Estado; eles seriam”clientes do Estado”). Por vezes às terras era adicionada uma “ajuda” em grãos e gado, que o plebeu tinha de reembolsar. Não servindo nas milícias, não partilhavam do despojo de guerra.


Muitas vezes reduzido à situação de devedor insolvente, o plebeu era convertido, em virtude do direito antigo, em escravo do seu credor. Havendo vários credores, diz a Lei das XII Tábuas (III, 6), «poderão partilhar entre si o seu corpo; cortem-no mais ou menos, que tal não terá consequências legais».

AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E A CIVILIZAÇÃO DA ROMA PRIMITIVA.

O rex comandava as milícias reunidas dos clãs. Julgaria também as desavenças, para evitar as vendettas (mais uma vez, história comparada. Diakov não tem nada na tradição que lhe permita fazer uma afirmação destas). Eram os grão-sacerdotes das divindades comuns, cujo culto se relacionava com os fenómenos naturais.


Segundo a tradição, os reis governaram em Roma até 510. Os quatro primeiros reis serão apenas do domínio do mito e a história dos seus reinados pertence à lenda (opinião contrária a de Kovaliov). Já não assim a partir de Tarquínio o Antigo.


Os comitia curiata seriam convocados pelo rex. Aí se decidiam as questões da paz e da guerra, se adoptavam as leis, admitiam-se novas gentes, etc.


No essencial, na Roma primitiva a gestão dos negócios públicos tinha ainda um carácter patriarcal, comunitário e pré-estadual. Mas já começam a surgir formas embrionárias de governo, dirigido contra os plebeus e os clientes.


A cultura dos romanos e dos latinos primitivos estava ainda num nível muito baixo. As suas povoações compunham-se de cabanas redondas, feitas de toros e ramos, com as paredes revestidas de terra amassada. Ignoravam o uso do torno de oleiro. Vestiam-se, de início, com peles de animais. Depois apareceram as túnicas e as togas de lã, de fabrico doméstico. O leite e outros produtos do pastoreio eram a base da sua alimentação.


Na religião dominava o animismo, a crença em inúmeros espíritos. Havia, por exemplo, Janus, o espírito da porta. Potina, o espírito da bebida. Terminus, o espírito do marco agrário.


Havia as almas dos antepassados falecidos: lares, manes, penates. Havia bruxos, os demónios malfazejos e arteiros, os fantasmas, etc.

O PROGRESSO ECONÓMICO E SOCIAL NO LATIUM E EM ROMA. AS PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS GREGAS

A partir do século VII a Itália entra na Segunda Idade do Ferro. O uso do ferro irá tornar-se dominante. Ao mesmo tempo difundir-se-á a olaria, sinal de que o artesanato começa a diferenciar-se da agricultura.


Um novo tipo de habitação, implantada no solo, de forma quadrada, atesta a passagem para a economia agrícola sedentária.


O inventário dos objectos encontrados nas sepulturas sugere o desenvolvimento das trocas. Foram descobertos objectos em âmbar e marfim, esmaltes e vidrilhos fenícios.


Um novo estalão de troca, lingotes de cobre de certo peso (as libralis), substitui o gado nas funções de dinheiro (O termo pecunia (dinheiro) deriva de pecus (gado)).


O clã patriarcal perde em importância face à economia familiar.


Nos séculos VIII e VII, todo o litoral oeste e o sul da península cobrem-se de uma rede de colónias gregas. Cumas (Cumae), Régio (Regium), Síbares (Sybaris), Heracleia (Heraclea), Tarento (Tarentum), entre outras.


Na costa oriental e meridional da Sicília essa rede apresentava-se ainda mais densa. Siracusa era a cidade mais importante da ilha.


Na Itália central, muito cedo se fez sentir a influência da colónia calcídica de Cumas, onde os Etruscos e, através destes, os latinos, foram buscar o seu alfabeto (que é apenas uma variante do alfabeto de Cálcis).


A julgar pela presença de numerosos fragmentos de cerâmica ática nos sítios arqueológicos, no século V Atenas há-de ter estado em relação comercial com o Latium e Roma.


No início do século V é construído no Aventino o primeiro templo romano de estilo grego, o templo de Ceres. Na mesma época, provavelmente, os artistas de Cumas terão fundido para o Capitólio a célebre loba (segundo uma outra tese, a obra será de origem etrusca).

ROMA SOB O DOMÍNIO DOS REIS CONQUISTADORES ETRUSCOS

(Diakov é defensor desta tese que, escusado seria dizer, continua a ser discutida) Os achados da etruscologia moderna e os trabalhos dos arqueólogos italianos contemporâneos, Ducati, Pallotino, etc., estabeleceram que, no século VII, os etruscos dominaram uma vasta zona, englobando o Latium e uma parte considerável da Campânia.


As antigas aldeias das “sete colinas”, agora em poder dos etruscos, são convertidas numa cidade de tipo etrusco, que se torna a capital da “província” latina da Etrúria.


Sob a influência dos vencedores, ter-se-á tornado um centro artesanal e comercial. Foi rodeada de muralhas e construíram-lhe esgotos. No Capitólio é edificado, em estilo etrusco, um imponente templo consagrado a Jupiter Optimus Maximus, que foi o principal santuário romano.


Surge um arado mais aperfeiçoado. Surgem também as técnicas dos ofícios e da construção. E um novo tipo de casa, com átrio. Os lingotes de cobre como dinheiro. O alfabeto. Começa a usar-se em mais larga escala o trabalho escravo.


Sobre a reforma de Sérvio Túlio: de cinco em cinco anos (lustrum), procedia-se ao recenseamento do povo e do seu património (census), repartindo-o pelas classes de cidadãos. Provavelmente, os homens dos ofícios e os comerciantes, não possuindo terra, seriam também capiti censi, tal como os proletários. O censo, ao que parece, servia também como base para a percepção de impostos (tributum). Anciãos especialmente designados em cada tribo encarregavam-se da arrecadação do tributum e do arrolamento das milícias, com base nas “classes”.


É possível que já nesta época tenha surgido o germe do que mais tarde vieram a ser os comitia centuriata. No início não teriam o carácter de assembleias do povo, seriam apenas convocações e revistas militares.

A QUEDA DO DOMÍNIO ETRUSCO E O FIM DO PODER REAL

Não restam dúvidas de que os etruscos foram expulsos de Roma por volta do ano 500. A secessão das cidades do Latium, com o auxílio das colónias gregas (Cumas sobretudo), terá sido seguida de uma sublevação popular em Roma, encabeçada pelos patrícios.

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5 HISTÓRIA DE ROMA: queda da monarquia e formação da república escrito em terça 29 janeiro 2008 10:04

Model of Rome from the time of Tarquinius
to the beginning of the republic, EUR, Rome. In: www.the-romans.co.uk.



HISTÓRIA DE ROMA



Parte 5


Escrito por Jorge Almeida

25-Ago-2006
extraído do site: O Espaço da História



A QUEDA
DA MONARQUIA
E A FORMAÇÃO
DA REPÚBLICA

A LENDA DE LUCRÉCIA

As personagens da lenda: Sexto Tarquínio, filho do rei Tarquínio; Lúcio Tarquínio Colatino, parente afastado da dinastia reinante; Lúcio Júnio Bruto, filho da irmã do rei Tarquínio.


Aquando do assédio à cidade de Ardea, num banquete, os convivas fazem o elogio das respectivas esposas. Colatino propõe então que todos juntos visitem a casa de cada um, o que é aceite. Encontram as mulheres dos filhos do rei num banquete, com as suas amigas. Chegando à pequena cidade sabina de Colácia, onde vivia Colatino, encontram a sua esposa, Lucrécia, rodeada pelas suas donzelas a fiar a lã. E Colatino ganha a sua aposta.


Mas ao ver Lucrécia, Sexto Tarquínio determina-se a possui-la. Alguns dias depois, acompanhado de um acólito, volta a casa de Colatino, naquele momento ausente. A matrona dá-lhe hospitalidade. De noite, Sexto penetra nos seus aposentos e, de espada em punho, força-a. Na manhã seguinte, após a partida de Sexto, Lucrécia manda chamar o marido e o pai e conta-lhes o que acontecera. Terminado o relato Lucrécia mata-se, apunhalando-se no coração.


Os parentes e amigos, capitaneados por Lúcio Júnio Bruto, levam o seu corpo ensanguentado para a praça da cidade, chamando os cidadãos à rebelião contra os Tarquínios. A multidão em fúria dirige-se a Roma. Ali, em conjunto com os romanos, no forum, decidem destituir o rei e expulsá-lo da cidade. Levando consigo todos os seus familiares, Tarquínio refugia-se na Etrúria.


O povo, em comitia centuriata, elege como cônsules Colatino e Bruto, dando assim origem à República.
Lívio diz que “isto” se passou em 510. Catão e Políbio, que terá sido em 507 (510 fora o ano da expulsão de Hípias de Atenas).


O que se pode recolher desta lenda: nos finais do século VI ou, segundo alguns historiadores, no início do século V, dá-se em Roma o derrube violento do último rei, com os seus poderes a serem transmitidos a dois funcionários, eleitos por um determinado período de tempo.


O monarca romano pertencia à sociedade etrusca e a sua expulsão foi provocada pelo patriciado. Ter-se-á tratado, à partida, de um movimento da nobreza itálica, cujo poder ia crescendo. Esse movimento foi dirigido contra o elemento mais poderoso da sociedade romana de então, de origem etrusca.

A GUERRA CONTRA OS ETRUSCOS

A tradição refere várias tentativas de Tarquínio o Soberbo para regressar ao poder. Houve, em primeiro lugar, uma conspiração de jovens nobres da corte, que foi descoberta e desfeita a tempo. Mais tarde, os exércitos reunidos das cidades de Tarquínios e de Veios marcham contra Roma. Na lendária batalha da floresta Arsia, na margem esquerda do Tibre, terá morrido Bruto. Porém, durante a noite, aterrorizados pela voz do deus Silvano, os etruscos retiram, abandonando o campo de batalha aos romanos.


Após este fracasso, Tarquínio recorre a Lars (Lartis) Porsena, rei da cidade de Clúsio (Clusium), e este declara guerra aos romanos. Desta guerra há toda uma série de lendas.


Numa delas, os etruscos chegam até à ponte sobre o Tibre. O soldado Horácio Cocles, de guarda na margem direita do rio, consegue detê-los, dando tempo aos seus companheiros de destruírem a ponte.
Outra lenda, contada por Lívio, Dionísio e Plutarco, é a do jovem patrício Múcio Cévola, que se introduz no acampamento etrusco com o fito de matar Porsena, durante o assédio de Roma pelos etruscos. Enganando-se, Múcio erra o seu alvo e mata o escriba do rei. Capturado e levado perante Porsena, diz-lhe desassombradamente ao que viera. Quando o ameaçam com a tortura, Múcio mete de imediato a mão direita num braseiro, até a queimar. Porsena, espantado com o seu gesto, ordena a sua libertação e decide levantar o sítio da cidade, a troco da cessão de uma parte do território romano a Veios e da entrega de reféns romanos.


Segundo Tácito, Roma foi mesmo ocupada por Porsena. E Plínio o Velho diz que Porsena impôs aos romanos condições duríssimas, só lhes permitindo o uso do ferro para o fabrico dos instrumentos agrícolas.


Esta versão de Tácito e de Plínio é apoiada por alguns sucessos posteriores. Por exemplo, a marcha de uma coluna etrusca, comandada por Arrunte, filho de Porsena, contra a cidade latina de Aricia, em 507. Esta coluna foi derrotada pelos latinos e pelos gregos de Cumas, ao mando de Aristodemo. Como nenhuma fonte menciona a participação dos romanos na batalha de Aricia, é razoável pensar que então se encontrassem sob domínio etrusco.

O TRATADO COM CARTAGO DE 508 ae

Políbio (III, 22): «A amizade entre os romanos, com os seus aliados, e os cartagineses, com os seus aliados, está baseada nas seguintes condições:

Os romanos, com os seus aliados, não passarão além do Cabo Formoso (em África, a norte de Cartago), salvo se forçados pelas tempestades ou pelo inimigo. Se alguma nave se vir forçada a tocar porto nessa zona, não terá direito a comprar ou a levar senão o estritamente necessário para a reparação do navio e para os sacrifícios propiciatórios; em qualquer caso, não poderá permanecer mais de cinco dias nesse sítio.
Os que forem por comércio, não poderão efectuar nenhuma transacção comercial sem o fazerem por intermédio dos funcionários especialmente designados para esse efeito, e as mercadorias vendidas na Líbia e na Sardenha, na presença destes funcionários, serão garantidas pelo Estado.
Se algum romano se apresentar na parte da Sicília submetida a Cartago, gozará dos mesmos direitos que os cartagineses.
Pela sua parte, Cartago compromete-se a não causar nenhum dano aos povos das cidades de Ardea, Antium, Laurentum, Circeii e Tarracina, assim como tampouco o fará a qualquer outra cidade latina sob o domínio de Roma.
Os cartagineses comprometem-se a não ocupar nenhuma das restantes cidades latinas e, desse-se o caso de uma delas se encontrar separada de Roma e de haverem os cartagineses ocasião de a ocupar, estariam então na obrigação de a restituir por inteiro aos romanos.
Os cartagineses comprometem-se a não promover nenhum trabalho de fortificação no Lácio.»

O tratado menciona vastos interesses comerciais romanos, estendendo-se até à África setentrional. E é assombrosa a amplitude da expansão da influência romana sobre a faixa costeira do Lácio, que quase atinge a Campânia. Tudo isto combina muito mal com o que conhecemos sobre a pequena e débil Roma dos começos da República.


Se a data da conclusão do tratado é correcta, ele só pode ter sido celebrado nos finais do período dos reis, quando Roma se encontrava na órbita da influência política e do comércio etrusco.

A TUMBA “FRANÇOIS”, DE VULCI

Entre as figuras murais desta tumba, encontramos a cena da libertação do etrusco Célio Vibena, por obra do seu fiel amigo Mastarna e do seu irmão Aulo Vibena. Junto a ela está a representação do assassinato do «romano Gneu Tarquino», às mãos de um tal Marco Camitelna (Marce Camitlnas). Estas figuras datam do século III ae, mostrando uma variante etrusca da tradição.

A HIPÓTESE DE SANCTIS

Sob os Tarquínios, Roma não estaria em poder dos etruscos, pois que os Tarquínios combateram contra cidades etruscas.


Algumas versões da tradição afirmam que Tarquínio o Antigo venceu os etruscos em duas grandes batalhas; e que foi reconhecido como chefe supremo de 12 cidades (Dionísio, III, 57; Floro, I, 5; Orósio, II, 4).


O poder de Roma relativamente à Etrúria terá sido reforçado por Sérvio Túlio (Lívio, I, 42; Dionísio, IV, 27), passando depois para as mãos de Tarquínio o Soberbo (Lívio, I, 55; Dionísio, IV, 65).


No reinado deste último Roma foi conquistada por um chefe etrusco, de nome Célio Vibena ou Mastarna ou Porsena; Tarquínio, a quem a tradição romana chama Lúcio e a tradição etrusca, Gneu, foi assassinado e, por algum tempo, o poder em Roma passa a um rei etrusco.


Com a derrota dos etruscos em Aricia, uma grande parte do Lácio é libertado do seu domínio. Isso reforçou a agitação dos elementos latinos em Roma, movimento que culminou na rebelião que expulsa o último rei (cujo nome, como se “viu”, seria incerto).

OS FUNCIONÁRIOS DA ANTIGA REPÚBLICA

Segundo a tradição dominante, o poder do rei foi substituído pelo de dois funcionários, eleitos anualmente nos comitia centuriata e sujeitos à confirmação do senado. Esses funcionários apenas podiam ser de origem patrícia. Eram chamados cônsules (consules, da palavra consulere). É o que diz Lívio (I, 60). Mas noutro fragmento (III, 55) Lívio diz que, nos começos, os cônsules eram chamados pretores (praetores). O mesmo é dito no dicionário de Festo (nº 269). Dião Cássio (começos do século III da era) só usa o termo cônsul, na sua “História Romana”, para os sucessos a partir de meados do século V. Para os acontecimentos anteriores, Dião utiliza a palavra de origem grega strategus, equivalente ao latim praetor. E nos fragmentos da Lei das XII Tábuas não se encontra a palavra consul, mas uma outra, quase ilegível, que se pode identificar como a palavra praetor (XIII, 3): «Si vindiciam falsam tulit, si velit is...tor arbitros tris dato...».


No termo praetor é mais evidente o carácter militar da alta magistratura, que a revolta há-de ter reforçado. E os consules surgem como sucessores dos reis, chefes militares sobretudo. No termo consul está implícito o carácter colegial da alta magistratura, que só mais tarde surgiu. A palavra consules significa “pessoas que se aconselham reciprocamente”, “colégio”, como o demonstrou Niebuhr.


Em algumas das cidades latinas, os mais altos funcionários, como o mostram as inscrições e as fontes literárias, eram também chamados pretores.


Segundo uma versão da tradição, o cargo de pretor só surge em meados do século IV, com carácter preferentemente judicial. Mas que razão levou a aplicar o termo puramente militar de “chefe” (praetor significa “o que vai à frente”, “o que conduz”) a funções de prevalência civil?


Os historiadores mais antigos explicavam o facto, de serem dois os mais altos magistrados, pelo propósito consciente de lhes enfraquecer a autoridade, evitando assim tentativas de imposição da tirania. Uma outra hipótese, baseando-se na afirmação de que a milícia da cidade à data da rebelião seria composta por duas legiões, supõe que cada legião elegeu o seu próprio chefe. Uma terceira hipótese explica os dois magistrados pela divisão em centúrias de juniores e de seniores. Uma quarta, porque a rebelião foi dirigida por duas facções patrícias, ambas reclamando uma parte do poder.


Kovaliov defende a hipótese do seu compatriota I. V. Nietuschil: no início o poder dos pretores não era de tipo colegial. Havia um pretor ancião e um pretor jovem, este actuando como ajudante do primeiro. O poder colegial não terá aparecido antes do século IV.


Os romanos eram um povo supersticioso e o seu modo de pensar caracterizava-se por um grande formalismo. Quando expulsaram o rei, colocou-se-lhes o problema de como continuar a assegurar, sem ofensa aos deuses, as funções religiosas que ele cumprira até então. A solução foi a de manter a designação de rex e as prerrogativas religiosas que lhe pertenciam num novo cargo, o de rex sacrorum. Uma solução puramente formal, já que o novo cargo era de modestos poderes e dependia do Pontífice Máximo, sendo o rex sacrorum por ele nomeado.


Entre os outros cargos dos inícios da República, estavam os questores (quaestores). Muito mais tarde, serão sobretudo tesoureiros, sendo eleitos, como todos os outros funcionários, nas assembleias populares. No início actuariam como ajudantes dos pretores para os assuntos judiciais (quaestor significa “inquiridor”) e não eram eleitos, mas nomeados pelos pretores.


Há quem defenda que os edis (aediles) seriam, de início, os ajudantes dos pretores para as questões económicas (aedes = edifício = templo), mas esta tese não tem qualquer apoio na tradição, que só os refere em épocas posteriores.


Há ainda quem sustente que os questores já existiriam na época dos reis, desempenhando as funções de juízes para as causas penais.

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1 HISTÓRIA DE ROMA: sumário e apresentação
2 HISTÓRIA DE ROMA: geografia, sociedade e proto-história
3 HISTÓRIA DE ROMA: fundação
4 HISTÓRIA DE ROMA: sociedade no período dos reis
5 HISTÓRIA DE ROMA: queda da monarquia e formação da república
6 HISTÓRIA DE ROMA: luta de classes
7 HISTÓRIA DE ROMA: República
8 HISTÓRIA DE ROMA: Política exterior de Roma antiga


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